Artigo de Maurício Locks, jornalista

Um colunista político amigo meu veio ponderar sobre um movimento recente em Santa Catarina. Depois da conversa, fui dar uma olhada na publicação que estaria causando. Achei normal. Dentro do meu caderninho de regrinhas, a frase que dá título a este artigo está entre as primeiras: o candidato precisa ser notado para ser votado.
A bolha política, muitas vezes sem perceber, reage com frisson a qualquer coisa que saia minimamente do padrão. Esquece que o padrão da política é, por natureza, insosso, pálido e sem graça. Nós, mesmo quando não queremos, somos pautados pela polêmica. No elevador, no ponto de ônibus, no almoço de família e, principalmente, nos grupos de WhatsApp, o que circula e gera comentário é a controvérsia e não o consenso.
Durante as últimas eleições, dois amigos muito mais experientes que eu e que admiro comentavam uma campanha que eu coordenava no marketing. Eles diziam que talvez já estivesse bom de conteúdo ideológico e que seria legal mostrar as obras. Era sincero, mas ignorava um detalhe importante. Oitenta por cento das publicações já eram sobre ações concretas. O problema é que o que prendia atenção, dava engajamento e criava narrativa eram os posicionamentos ideológicos. A lógica da comunicação política funciona assim desde sempre. As pessoas não se movem pelo que é neutro.
Em Santa Catarina, as dicotomias do passado, como fotos com Lula ou Bolsonaro, continuam alimentando paixões e ódios. Mas, tirando esse caldo emocional, muitos políticos simplesmente desapareceriam do radar. O conflito, gostemos ou não, é o que coloca luz no personagem. É por isso que aquela velha máxima segue valendo. O político deveria ter mais medo de ser irrelevante do que de ser criticado.
É aqui que vale lembrar o exemplo da deputada federal Júlia Zanatta, que domina essa lógica como poucos. Ela entendeu cedo que, na política contemporânea, protagonismo não se terceiriza. Sua vivência em comunicação política facilita na hora de organizar seus posicionamentos e transformar cada aparição em narrativa. Concorde-se ou não com suas pautas, ela compreende perfeitamente que ser vista é pré-requisito para ser lembrada.
E há um ponto que já tratei em outro artigo. Muita gente repete que o povo está cansado de extremistas. A frase soa bonita, equilibrada e madura. Mas a realidade mostra outra coisa. Os perfis mais seguidos, os vídeos mais assistidos e os discursos mais compartilhados pertencem justamente aos extremos. A contradição é evidente. Não se segue aquilo que se diz gostar, mas aquilo que provoca.
A política não é um concurso de boas maneiras. É um mercado de atenção. E, nesse mercado, quem tenta ser inofensivo acaba invisível. Chacoalhar o ambiente, gerar discordância e marcar posição cobra um preço, claro. Mas a alternativa é pior. Cair no esquecimento. E político esquecido não elege nem síndico.
Se candidato precisa ser notado para ser votado, então movimentos que soam polêmicos para a bolha talvez sejam apenas o preço natural da disputa. No fim das contas, quem não arrisca ser criticado arrisca algo muito mais fatal. Não ser lembrado.






