Microfinanças, microcrédito e governança climática na COP30: por que o desenvolvimento sustentável precisa incluir quem está à margem do sistema financeiro. Por Stéfano Mattei

Artigo de Stéfano Mattei, coordenador de ESG na Credisol Microcrédito Brasil

A COP30, realizada este mês em Belém-PA, é o principal evento global organizado pela ONU para discutir os efeitos das mudanças climáticas e os caminhos para enfrentá-las. Entre os pontos estratégicos debatidos ao longo dos diversos painéis, esteve o incentivo às microfinanças como mecanismo essencial para ampliar a adaptação e a resiliência em escala. Especialistas de diferentes regiões do mundo convergiram no entendimento de que instituições de microcrédito e microfinanças cumprem um papel vital na distribuição de financiamento climático, sobretudo porque atendem microempreendedores que estão entre os grupos mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos. Isso ocorre porque essas entidades atuam onde o sistema bancário tradicional não chega: regiões remotas, desassistidas ou marcadas pela informalidade econômica.

Nesse público está o foco da Credisol, OSCIP de Microcrédito com mais de 25 anos de atuação e presença consolidada em todas as regiões brasileiras. A instituição oferece linhas de crédito produtivo e orientado para uma base majoritariamente informal, permitindo que microempreendedores ampliem suas atividades, qualifiquem estruturas de trabalho e aumentem sua renda. Essa atuação tem impacto direto sobre a capacidade dessas famílias de enfrentar e se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas, fortalecendo suas condições de resiliência e autonomia econômica.

A presença da Credisol na COP30 ocorreu a convite da Associação de Microfinanças do Azerbaijão, que reconheceu na instituição um caso relevante de fomento ao microempreendedorismo. Pequenos negócios informais, com acesso adequado ao crédito, conseguem se consolidar, gerar renda local e melhorar indicadores sociais em comunidades onde a vulnerabilidade climática é mais intensa. Ao longo da programação, participei das discussões ao lado do gerente de operações da Credisol, Eduardo R. Manenti, levando a experiência de uma rede que cresce em capilaridade e profundidade no atendimento.

Nas discussões no pavilhão do Azerbaijão, destacou-se o entendimento de que as microfinanças começam a ocupar posição estratégica na agenda climática internacional. O economista do desenvolvimento Piotr Korynski, especialista em investimento de impacto, avaliou que as instituições de microcrédito são um canal ainda subutilizado, mas altamente eficiente, para distribuir recursos climáticos. Essa análise reflete a realidade vivida no Brasil: o microempreendedor sente de forma imediata o impacto de eventos extremos, seja pela instabilidade operacional, seja pela perda de insumos, infraestrutura ou clientela.

Piotr chamou a atenção para uma lacuna recorrente: enquanto grandes fundos climáticos internacionais percebem territórios vulneráveis como ambientes de risco elevado, as instituições de microfinanças e microcrédito conhecem profundamente essas regiões, possuem relações consolidadas com os empreendedores e gerenciam riscos de maneira ajustada ao contexto local. Essa proximidade operacional as transforma em agentes estratégicos de governança climática.

Outra reflexão presente nos debates reforçou a necessidade de compreender as microfinanças além da redução da pobreza. Instituições de microcrédito têm potencial para financiar práticas sustentáveis, apoiar tecnologias acessíveis e fortalecer modos de subsistência resilientes. Em muitos territórios, pequenos negócios também desempenham papéis ambientais importantes: dependem da regularidade climática e, ao mesmo tempo, ajudam a sustentar economias locais com baixo impacto ambiental.

Para liberar esse potencial, é fundamental aproximar as instituições de microcrédito dos mecanismos internacionais de financiamento climático, como o Green Climate Fund. A falta de diálogo estruturado entre esses atores impede que recursos cheguem a quem mais precisa. Essa foi uma das principais barreiras destacadas por Piotr — e reforça a urgência de estabelecer pontes que conectem fundos globais às instituições que atuam no terreno.
A presença das microfinanças e do microcrédito na COP30 representou um marco. Segundo Piotr, esta foi a primeira vez que esse tema apareceu com clareza em um fórum climático dessa escala. Esse movimento indica uma mudança de perspectiva: soluções para a crise climática precisam considerar quem está na base da economia, quem empreende com poucos recursos e quem experimenta diretamente os impactos do clima.

A experiência da Credisol mostra que acesso ao crédito pode ser traduzido em inclusão produtiva, renda e fortalecimento comunitário. Ao apoiar microempreendedores em todas as regiões do país, contribuímos para ampliar a resiliência de milhares de famílias. E, ao levar essa pauta à COP30, reforçamos que o desenvolvimento sustentável só será completo quando integrar inclusão financeira, justiça climática e oportunidades reais de transformação.

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