Artigo de Alan Schöeninger, formado em Gestão Pública, especialista em relações governamentais e sócio da NM80 Assessoria em Gestão de Convênios e Captação de Recursos.

Estamos chegando ao fim do primeiro ano de mandato dos prefeitos eleitos em 2024.
Trata-se de um período único, marcado pela necessidade de entender a estrutura pública sem permitir que esse processo desacelere serviços, obras e entregas. O cidadão não espera “tempo para aprender”, ele espera resultado.
O primeiro ano exige adaptação e estudo da máquina, mas também ação, e é justamente essa combinação que separa quem apenas administra de quem governa. Afinal, conhecer a prefeitura é fundamental, mas deixar a cidade parada é imperdoável para quem tem apenas quatro anos de mandato.
Esse período inicial exige decisões estratégicas que impactam os quatro anos seguintes.
Cada prefeito precisa responder no seu início de mandato qual legado pretende deixar. Qual será o antes e depois da sua gestão? Quais são pelo menos três transformações reais que o município verá e sentirá? Sem isso, o mandato corre o risco de virar improviso, e improviso é desperdício de energia, dinheiro e credibilidade.
2025 foi o ano de captar; mas só para quem estava preparado tecnicamente.
No âmbito federal, o destaque foi o Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que abriu diversas oportunidades aos municípios catarinenses.
Mas o PAC não escolheu cidade pela simpatia, e sim pela qualidade técnica dos projetos.
Muitos municípios captaram recursos expressivos porque possuíam banco de projetos pronto, equipe técnica estruturada e setor de convênios funcionando com eficiência.
Por outro lado, prefeituras que ainda “estavam arrumando a casa”, sem projetos maduros ou equipe qualificada, simplesmente ficaram aguardando, e quem aguarda, perde. Ainda temos as emendas parlamentares, que só tratando dos nossos representantes federais, chegaram a destinar em média R$ 80 milhões em emendas em 2025.
Alem da articulação, recebe quem comprova capacidade de executar com eficiência esses recursos.
No estado, o Programa Santa Catarina Levada a Sério deixou claro: quem estava pronto, saiu na frente.
Entre 2023 e 2025, o programa já movimentou cerca de R$ 2,5 bilhões em investimentos para os 295 municípios de Santa Catarina. Muitas prefeituras, especialmente as que possuíam setores de convênios organizados, já iniciaram obras, executaram compras de equipamentos e começam a entregar resultados concretos; e isso no primeiro ano de governo.
Outras, ainda engatinham na fase de licitações e elaboração de projetos. Em uma gestão pública moderna, a lentidão não é um problema técnico: é um prejuízo político.
O poder de acelerar está diretamente ligado à qualidade da equipe e ao banco de projetos.
2026 já está no horizonte, e o calendário eleitoral é mais desafiador que qualquer burocracia.
Ano eleitoral é sempre mais lento: prazos são reduzidos, contratações exigem cuidados extras, transferências ficam sujeitas a restrições legais e muitas decisões são adiadas. Isso significa que os prefeitos que não anteciparem licitações, não estruturarem cronogramas e não deixarem projetos prontos ainda em 2025 correm o risco real de viver um 2026 parado, e perder metade do mandato esperando “o tempo passar”. Para quem governa município, tempo parado nunca volta.
A pirâmide invertida continua: o dinheiro está na União, mas a vida acontece no município.
Reforma tributária, nova legislação do imposto de renda e novas regras fiscais pressionam as contas locais e reforçam a dependência de repasses externos. Isso não deve ser visto apenas como um fato, mas como uma convocação: sem uma área técnica forte para captar, executar e prestar contas com eficiência, o gestor perde receita, perde obra, perde voto. Equipe qualificada passa a ser mais importante para uma gestão pública do que praça inaugurada, pois sem a primeira, a segunda nem acontece.
O município é o palco onde a vida realmente acontece: é onde nascemos, trabalhamos, estudamos, buscamos atendimento de saúde, crescemos e envelhecemos. É no âmbito municipal que o Estado se torna visível. Por isso, neste fim de primeiro ano, cabem duas perguntas a cada prefeito catarinense:
a máquina está organizada para entregar? E a cidade já consegue perceber a diferença?
Se a resposta ainda não é plena, 2026 não perdoará. Não é a burocracia que atrapalha a gestão; é a falta de preparação.
Quem planejou, está capacitado tecnicamente e articulado politicamente, entregará.
Quem esperou, justificará.
E justificar não constrói legado.
Afinal, a pátria que vivemos não é Brasília. É o município.






