O recado do TJSC aos políticos e o fim do sonho de Ivan Naatz de vestir a toga de desembargador

Chegou ao fim uma das disputas mais politizadas da história pela vaga do Quinto Constitucional da advocacia no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. O governador Jorginho Mello (PL) não esperou um dia sequer para confirmar o advogado William Quadros como novo desembargador do TJSC.

A definição da lista tríplice com Quadros na liderança com 65 votos, seguido pelo empate em 59 votos entre os nomes do ex-procurador-geral do Estado Márcio Vicari e da advogada Giane Bello, encaminhou a escolha e sepultou o sonho do deputado estadual Ivan Naatz (PL), líder do governo na Assembleia Legislativa, de vestir a toga de desembargador.

A campanha de Naatz esbarrou em um muro intransponível: a rejeição interna na Corte. Contudo, a dinâmica política final merece uma leitura atenta. A declaração pública do governador Jorginho Mello (PL), garantindo que nomearia o deputado caso ele figurasse em qualquer posição da lista, carregava uma dubiedade estratégica. Ao mesmo tempo em que entregava ao parlamentar o apoio público desejado, a fala funcionou como um aviso velado aos magistrados de que se o nome de Naatz chegasse à mesa do governador, a nomeação estaria garantida. Orecado foi claro: se o Tribunal não o queria como par, que assumisse o ônus de barrá-lo antes.

A resposta dos desembargadores foi eloquente. Com apenas 15 votos entre 109 possíveis – e considerando que cada magistrado podia votar em três nomes –, Naatz ficou em um distante sexto lugar. O Pleno entendeu o ultimato e agiu para que a “opção Naatz” sequer existisse para a caneta do governador.

Diante desse movimento dúbio, ficou evidente o que já aparecia nos bastidores: William Quadros era o real favorito na Casa d’Agronômica. Ele figurou entre os primeiros colocados na formação das 12 candidaturas no Conselho da OAB/SC e a votação direta entre os advogados para filtragem de seis nomes, mas só alcançou o primeiro lugar onde o peso era maior – o voto da categoria que desejava integrar.

Na reta final, Quadros mostrou habilidade maior para transitar entre os grupos que dividiram o Judiciário. A eleição para a presidência do TJSC, que ocorreu no mesmo dia e terminou com a vitória apertada de Rubens Schulz sobre Maria do Rocio por apenas seis votos, contaminou a disputa do Quinto. Enquanto Márcio Vicari ficou mais atrelado a um dos blocos, Quadros conseguiu circular melhor, misturando as estações e garantindo a liderança. Era vital para as pretensões de Vicari o primeiro lugar, se possível com folga, na lista tríplice do TJSC.

A votação de Giane Bello também é relevante. Única mulher na disputa, ela empatou com Vicari, que até então era visto como o favorito para encabeçar a lista pelos seus fortes vínculos com o Tribunal. Giane sai fortalecida para futuras vagas, especialmente com a criação de novos cargos de desembargador no horizonte.

Sexto colocado, Naatz jogou holofotes quase inéditos para a disputa do Quinto Constitucional – especialmente pelo seu estilo autêntico, custe o que custar. A trajetória do parlamentar nesse certame traz uma comparação inevitável com o ex-deputado estadual e hoje desembargador João Henrique Blasi. Quando Blasi fez a transição da Alesc para o TJSC, também era líder de governo, mas adotou postura oposta. Respeitou a liturgia, atuou nos bastidores e evitou transformar sua candidatura em palanque externo. Naatz manteve o estilo polêmico, gerando ruídos diários que não compuseram bem com o perfil esperado pelo Judiciário. Fica a lição de que não basta ter apoios fora; é preciso respeitar os rituais de dentro.

Ao fim, Jorginho confirmou William Quadros e o TJSC consagrou as jornadas de Vicari, Giane Bello e Mauro do Nascimento, quarto colocado com 44 votos, para disputar futuras vagas. A Ivan Naatz, que entendeu o recado das urnas togadas e já anunciou que não participará de novas disputas, resta o retorno à liderança do governo Jorginho Mello na Alesc. A curiosidade que fica é sobre como estará o humor do deputado no parlamento após perceber que a construção política feita pelo topo, sem a devida base interna no Judiciário, revelou-se um equívoco de cálculo.

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