Artigo de Giancarlo Tomelin, deputado estadual por SC ( 2008-2010)

Se há algo que a política brasileira ensina , desde a redemocratização, é que as eleições são vencidas com o centro. A recente nomeação e convite para o apresentador Luiz Datena comandar um programa de entrevista na EBC , pode nos dar uma pista do que vem pela frente .
Tanto com FHC em 1994 e 1998 , com Lula em 2002 e 2006 e ironicamente até com Bolsonaro em 2018, o centro fez a diferença e eles precisaram modular o discurso para além do seus respectivos pensamentos e posicionamentos políticos . Porém, em 2026, Lula parece disposto a esquecer essa lição elementar e, num movimento paradoxal, afastar-se justamente do eleitorado que garantiu sua vitória apertada em 2022.
O primeiro sinal dessa deriva veio nas indicações ao Supremo Tribunal Federal. Em vez de apostar em nomes amplamente reconhecidos pela comunidade jurídica, dotados de trajetória sólida e capacidade de diálogo institucional, Lula preferiu Cristiano Zanin, seu advogado pessoal, e agora com Messias. Essas decisões são vistas como escolhas políticas autocentradas. Não constituem escândalo em si , presidentes têm essa prerrogativa , mas representam um ruído, transmitem ao centro democrático a mensagem de que a preocupação prioritária do governo é proteger cercas e consolidar aliados e não fortalecer a institucionalidade de forma independente, como diversas vezes propalados na desgastante campanha de 2022.
O segundo movimento da coreografia errática aparece nas alianças internas. A escolha de Gleisi Hoffmann para a Casa Civil como guardiã da tônica partidária e a aproximação quase ritual com Guilherme Boulos na Secretaria Geral da Presidência da República destacam um governo que, ao menos simbolicamente, parece enamorado da esquerda mais ideológica. Nada mais legítimo do ponto de vista partidário; porém, do ponto de vista eleitoral e estratégico, isso gera um problema óbvio: não há votos suficientes à esquerda para sustentar um projeto nacional em 2026. É matemática, não ideologia.
A ironia aqui é saborosa: Lula, que sempre foi um mestre da conciliação, começa a agir como se governasse um país parlamentarista, onde alianças internas do partido bastariam para a sobrevivência política. Só que o Brasil é presidencialista, personalista e brutalmente polarizado e cada gesto em direção aos nichos mais radicais provoca arrepios no eleitorado que se considera progressista moderado, liberal democrático ou simplesmente cansado de extremismos.
É neste ponto que a figura de Geraldo Alckmin se torna central. Em 2022, ele foi muito mais do que um vice. Geraldo representou uma ponte necessária que garantiu ao lulismo um verniz de responsabilidade fiscal, moderação e estabilidade institucional. Para muitos eleitores inclusive conservadores não bolsonaristas , votar em Lula com Alckmin não foi votar no PT. Foi votar na democracia.
E agora? Circulam rumores de que Lula poderia substituir Alckmin na chapa de 2026. Se isso ocorrer, o gesto seria interpretado como a ruptura definitiva do pacto centrista que sustentou o retorno ao poder. Deixar o centro órfão é uma escolha política possível e arriscada . Mas é também um bilhete quase garantido para a vitória da direita , que aparentemente difusa, permanece organizada, disciplinada e com narrativa pronta para 2026. E a eleição é um ente em si , um “ser vivo “e serve perfeitamente pra reaglutinar interesses e projetos .
O risco é óbvio e crescente. Ao insistir em caminhar para a esquerda interna, Lula empurra setores moderados diretamente para o colo do bolsonarismo reembalado , aquele que retornará com novo discurso, mas com a mesma capacidade de mobilizar ressentimentos. Em outras palavras, Lula parece empenhado em abrir a porta que jurou manter fechada.
A sátira aqui é inevitável: um governo que nasceu da união improvável entre um sindicalista e um ex-tucano pode agora, por excesso de convicção ideológica, entregar o país de bandeja para forças que desprezam a própria ideia de moderação. Não se trata de agradar a esquerda ou a direita ; trata-se de reconhecer que a democracia brasileira só respira quando o centro existe, e só existe quando é respeitado.
Se Lula deseja evitar que 2027 comece com a volta triunfal do bolsonarismo , talvez até mais forte, mais disciplinado e mais profissional do que antes , precisa abandonar a tentação de governar para os convertidos. O eleitorado que decide eleições não está nos diretórios partidários, mas na classe média urbana, nos liberais moderados, nos conservadores democráticos, nos pragmáticos que não querem mais aventuras.
Que ansiam por um projeto de pais , equilibrado, desenvolvimentistas e que reduza as desigualdades sociais.
A conclusão é simples, quase óbvia, mas essencial. Lula ao se afastar do centro, perderá o centro; e perdendo o centro, perderá a eleição. A cadeirada ainda é evitável e desta vez, se acontecer , não será Datena o autor , mas o PT e os aliados de Lula que turvam a sua visão.






