As rescisões de César Augusto no Avaí e Marlyson no Figueirense escancaram uma crise que se repete, aprofunda a desconfiança e transforma cada nova temporada em um déjà-vu de incertezas e decepções

Quando um jogador deixa um clube pela porta da Justiça, não é apenas um contrato que se rompe. É um sinal. Um aviso que se repete com frequência suficiente para deixar de ser exceção. Em Florianópolis, Avaí e Figueirense vivem esse ciclo há tempo demais para ainda ser tratado como acaso. As rescisões sucessivas não contam histórias individuais. Elas revelam um retrato coletivo de desordem.
O torcedor costuma olhar para o campo em busca de respostas. Mas, nos últimos anos, as explicações estão fora das quatro linhas. Jogadores saem antes do fim, elencos se desmontam no meio do caminho, promessas viram processos. O futebol segue, mas manca. Não por falta de talento, e sim por ausência de sustentação. Quando o básico falha, nada em cima se mantém.
Essas partidas antecipadas criaram um efeito perverso. Cada nova temporada começa com desconfiança. Atletas chegam com o pé atrás. Profissionais medem riscos antes de aceitar. E o torcedor, calejado, já não projeta futuro. Olha para 2026 e enxerga o reflexo de 2025, 2024, 2023. Um déjà-vu que se aprofunda, não se dissolve.
O problema não é perder jogadores. Clubes perdem atletas todos os anos. O problema é como perdem. Quando a Justiça vira intermediária, o dano extrapola o elenco. Multas, perda de ativos, processos em cadeia. O clube empobrece em silêncio enquanto anuncia recomeços em voz alta. Planejamentos nascem frágeis porque já começam devendo ao passado.
A insistência nesse modelo corrói algo que não aparece no balanço financeiro: a confiança. No futebol, reputação é moeda. Avaí e Figueirense, outrora destinos desejados, hoje precisam convencer antes de contratar. E convencer custa caro. Às vezes, custa a qualidade. Outras vezes, custa o futuro.
O torcedor percebe. Não se trata mais de cobrar acesso, título ou campanha histórica. A frustração é mais profunda. É perceber que o clube não consegue garantir nem a permanência de quem veste a camisa. Que a temporada mal começa e já carrega risco de desmonte. Que a esperança virou cautela.
As saídas judiciais não são o fim da crise. São o começo visível dela. O ponto em que a má gestão deixa de ser discurso e vira documento. Enquanto forem tratadas como episódios isolados, o roteiro seguirá o mesmo. Mudam os nomes, mudam as temporadas, mas o enredo permanece.
E o torcedor, que já aprendeu a conviver com a decepção, começa a temer algo ainda pior: a normalização do fracasso.





