À mulher de César 

Esta coluna não é sobre política.

Dito isso, a história oferece lições úteis quando o assunto é reputação. Na Roma Antiga, após um escândalo envolvendo sua esposa, Júlio César decidiu se divorciar. A justificativa atravessou séculos: à mulher de César não basta ser honesta; é preciso parecer honesta.

Poucos episódios recentes foram tão emblemáticos para esse debate quanto o que envolve o ministro Alexandre de Moraes, o Banco Master, sua esposa e as denúncias reveladas pela jornalista Malu Gaspar. Não pelo desfecho, ainda em apuração, mas pelo teste público que impõe à reputação de uma das figuras mais expostas da República.

Alexandre de Moraes atravessou o período mais agudo da crise democrática brasileira sob vigilância permanente. Idolatrado por uns, rejeitado por outros, manteve-se, até aqui, fora de questionamentos diretos sobre sua honra pessoal. Isso, por si só, já o colocava em uma posição rara no ambiente político-institucional brasileiro.

O episódio muda o cenário. A imprensa apura a existência de um contrato milionário entre sua esposa e um banco em dificuldades financeiras, cujo destino passa pelo Supremo Tribunal Federal. Soma-se a isso uma denúncia de fonte que preferiu não se identificar, segundo a qual o ministro teria abordado autoridades do Banco Central sobre o tema. Eis o núcleo dos fatos conhecidos até aqui.

No campo da reputação, o problema raramente está apenas no ato. Está no contexto e, sobretudo, na percepção pública. Como ensinou César, ser correto não basta quando o ambiente é de desconfiança estrutural. A narrativa, verdadeira ou não, tende a ganhar vida própria, especialmente quando envolve autoridades altamente visadas.

Por isso, a gestão da reputação exige um cuidado quase obsessivo com zonas cinzentas, conflitos aparentes e decisões que, fora do papel, podem soar imprudentes. Figuras públicas, especialmente aquelas que operam em posições de poder, não têm o luxo da leitura benevolente.

Por isso este episódio importa. Não como disputa política, mas como lembrete de que, em posições de poder, a linha entre o que é legal e o que é aceitável é mais estreita do que muitos gostariam de admitir.

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Feliz 2026! 

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