Artigo de Rafael Pezenti, Deputado federal (MDB-SC), Diretor da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e Diretor da Frente Parlamentar de Apoio ao Produtor de Leite (FPPL).

Costumamos falar da agricultura familiar em tom de reverência ou estatística. Dizemos que ela produz 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. Relembramos seu papel na geração de empregos e no desenvolvimento regional. Mas talvez ainda falte uma imagem que realmente nos faça entender o que está em jogo.
A agricultura familiar é o SISTEMA IMUNOLÓGICO DO BRASIL.
Pense no seguinte: nosso sistema imunológico é silencioso, essencial e raramente lembrado — até que o corpo adoeça. A agricultura familiar funciona da mesma forma. Em tempos de normalidade, ela opera sem alarde. Mas quando há crises, rupturas no mercado internacional, guerras, pandemias ou quebras de safra nas grandes monoculturas, é ela quem mantém o Brasil de pé.
Enquanto o agronegócio exporta e negocia em dólar, a agricultura familiar garante o arroz, o feijão, a mandioca, o leite e os hortifrútis do dia a dia na sua mesa. Quando a cadeia global de suprimentos falha, quem abastece os mercados locais não é a multinacional, é o agricultor da vizinhança.
Isso não significa que uma coisa exclua a outra. Não sou contra o agro exportador — pelo contrário. Mas sou contra a miopia deste governo, que ignora quem põe comida no prato do trabalhador. É preciso mais crédito, mais assistência técnica, mais segurança jurídica, infraestrutura e políticas públicas estáveis.
No entanto, o que vemos do governo federal? Cortes no orçamento do Programa de Seguro Rural (PSR); no programa de custeio e investimentos (Proagro) para pequenos produtores; demora na liberação de crédito, burocracia crescente e falta de diálogo. Sobra indiferença.
Na lógica da natureza, um corpo sem músculos pode sobreviver. Um corpo sem imunidade, não. O Brasil precisa da força do agro, sim, mas precisa também da resiliência e da proximidade da agricultura familiar.
Em Santa Catarina, onde o valor da produção agropecuária foi de R$ 63,7 bilhões em 2024, e onde temos mais de 170 mil propriedades de base familiar, esse modelo não é uma teoria — é uma realidade viva, produtiva e inovadora. É a prova de que a agricultura familiar funciona.
Atualmente, 78% das propriedades rurais catarinenses atuam neste modelo. Esses pequenos e médios produtores respondem por cerca de 50% de todo o faturamento da agropecuária do estado. E, só pra lembrar, representamos cerca de 1,1% do território nacional, mas somos o maior produtor do país de carne suína, de maçã, de cebola e o quarto de leite. Isso é resultado direto do esforço e do suor de agricultores que, cada vez mais, aliam tecnologia e sustentabilidade na produção.
Por tudo isso, filho de pequenos agricultores que sou, enquanto estiver deputado, não baixarei a guarda, nem a voz, para defender esse setor tão importante e tão esquecido por quem deveria se lembrar dele todos os dias.
É hora de parar de tratar a agricultura familiar como uma categoria de apoio e reconhecê-la como uma base estratégica da soberania nacional. Investir na agricultura familiar é investir na saúde do Brasil.