A corrupção de volta ao debate. Por Carlos Petiz Junior

Por Carlos Petiz Junior, consultor em compliance e relações internacionais.

Desde 1996, o Instituto Datafolha realiza uma pesquisa para identificar, na percepção da população, qual é o principal problema do país. Saúde, violência e desemprego sempre se alternaram nas primeiras posições, até que em 2015 a corrupção atingiu o primeiro lugar do ranking, com 34% de preferência entre os entrevistados.

O resultado era reflexo direto da Operação Lava Jato, iniciada no ano anterior. A cobertura diária dos desdobramentos das investigações manteve o tema em evidência até 2018, sempre entre as três primeiras colocações. A partir daí, a menção à corrupção começou a cair, chegando à sétima posição em 2021, coincidindo com o retrocesso do tema no cenário nacional.

As pesquisas mais recentes, porém, apontam uma reversão dessa tendência e um retorno do assunto como pauta política. No Datafolha, a menção da corrupção como maior problema do país estabilizou no patamar de 7-8 pontos desde 2023, retomando o 5º lugar no ranking. Ainda que esteja distante do nível visto na época da Lava Jato, é importante destacar que a última pesquisa do instituto envolvendo o tema corrupção ocorreu no início de abril, ou seja, antes da divulgação do escândalo dos descontos dos aposentados do INSS, que ocupou amplo espaço na mídia e certamente terá impacto no próximo resultado.

Já os dados da pesquisa Atlas Intel/Bloomberg, realizada entre 19 e 23 de maio, refletem diretamente a influência do noticiário na percepção do eleitor. O levantamento mostra que a corrupção assumiu o primeiro lugar entre os maiores problemas do Brasil, saindo de 47% de menções em abril para 60% em maio.

A pesquisa Genial/Quaest, que coletou dados de 29 de maio e 1º de junho, aponta um crescimento de 5 pontos na menção da corrupção como maior preocupação em relação ao Brasil atual, chegando a 4º lugar no ranking, acima de saúde e educação, por exemplo. Em outra pergunta, ao responder qual a notícia mais negativa que o entrevistado ouviu sobre o governo Lula até aqui, corrupção e o caso do INSS foram os itens mais mencionados, com 9 e 10 pontos respectivamente.

Os números parecem apontar para um retorno da corrupção ao centro do debate político para o ciclo eleitoral de 2026. Somado a isso, a provável instalação de uma CPI sobre o caso do INSS deve manter o tema em evidência até o início de 2026, com um fluxo constante de notícias gerando desgaste para o governo.

Nesse cenário, o eleitor poderá retomar o sentimento de indignação com a classe política em movimento comparável ao que vivemos logo após a Lava Jato, com prováveis reflexos nas urnas, ainda que em menor escala. Haverá maior cobrança em relação aos agentes políticos sobre como utilizaram seus mandatos para colocar em prática ações concretas sobre o problema.

E, embora a corrupção seja uma palavra que aglutine a insatisfação da sociedade com a classe política, temas conexos a ela, como transparência, integridade, ética, conflitos de interesse, também sofreram retrocessos nos últimos anos e podem servir como canalizadores para a frustração do eleitor.

Vivemos ao mesmo tempo um quadro de retorno da corrupção (estrita ou em um sentido mais amplo, de desvios de integridade pública), enfraquecimento das instituições e retomada da preocupação da sociedade com o assunto. Trata-se do momento ideal para que lideranças políticas e instituições se posicionem com clareza sobre seus compromissos com a integridade, a ética e a transparência.

É fundamental trazer ideias, propostas concretas e um histórico de ações já realizadas, afastando-se do discurso oportunista “sou contra tudo que está aí”. Nas eleições de 2018 e 2022 muitos políticos conquistaram seus mandatos com essa pauta. Agora é hora de prestar contas e justificar os votos recebidos.

Construir uma narrativa coerente e responsável poderá ser decisivo para (re)conquistar a confiança do eleitor e influenciar os rumos da próxima eleição.

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