Artigo de Flávio Souza, consultor político e microempresário.

A recente declaração da deputada federal Júlia Zanatta, que sugeriu que quem vem para Santa Catarina deveria votar na direita, reacendeu o debate sobre a influência de figuras políticas nas decisões eleitorais e, sobretudo, sobre a fundamental liberdade de escolha dos cidadãos. Essa fala, que rapidamente ganhou repercussão, levanta questões importantes sobre os limites da retórica política e o papel do eleitorado em um sistema democrático.
Do ponto de vista político, a declaração da deputada é claramente interpretada como uma tentativa de consolidar uma base eleitoral e fortalecer a ideologia de direita no estado, que já possui um histórico de forte adesão a essa vertente política. Ao vincular a identidade catarinense ou a decisão de morar no estado a uma preferência ideológica, a deputada busca, de certa forma, criar uma coesão em torno de pautas e candidatos específicos. Essa estratégia não é incomum na política, onde líderes frequentemente tentam mobilizar eleitores em torno de valores e princípios que consideram representativos de uma determinada região ou grupo social.
No entanto, essa abordagem com certeza fortalece a polarização em nosso estado. Ao sugerir uma “direção” de voto, a declaração chancela uma tentativa de deslegitimar outras opções políticas e, consequentemente, alienar eleitores que não se identificam com a direita. Em um cenário político já bastante dividido, falas como essa aprofundam as fissuras ideológicas, dificultando o diálogo e a construção de consensos.
As implicações sociais da declaração são igualmente relevantes, especialmente quando se olha para o princípio da liberdade de escolha. A democracia, em sua essência, baseia-se na premissa de que cada cidadão tem o direito inalienável de escolher seus representantes, independentemente de sua origem, crenças ou local de residência. Sugerir que a escolha política deveria estar atrelada a uma condição (como mudar-se para um estado) evidencia uma tentativa de cercear essa liberdade fundamental.
A liberdade de escolha não se restringe apenas ao ato de votar, mas abrange a capacidade do indivíduo de formar suas próprias convicções políticas, baseadas em suas experiências, valores e na análise das propostas dos diferentes candidatos e partidos. Tentar direcionar o voto ou criar uma expectativa de que um eleitor deva seguir uma determinada linha ideológica por estar em um local específico pode minar a autonomia individual e o pensamento crítico.
Obviamente a declaração gera um sentimento de exclusão ou de “não pertencimento” para aqueles que, vivendo em Santa Catarina, não compartilham da mesma visão política. A diversidade de pensamento é um pilar de sociedades saudáveis e democráticas, e qualquer tentativa de homogeneizar o eleitorado pode ser prejudicial ao pluralismo e à representatividade.
Em suma, a fala da deputada Júlia Zanatta, embora possa ser vista como uma estratégia política para fortalecer uma ideologia, inevitavelmente coloca em pauta a importância de salvaguardar a liberdade de escolha do eleitor. Em uma democracia vibrante, o convite à reflexão e ao debate de ideias deve prevalecer sobre qualquer tentativa de direcionar ou condicionar o voto, garantindo que cada cidadão possa exercer seu direito de forma plena e autônoma.