Artigo de Arthur Cysne, publicitário, pós graduado em ciências políticas e diretor de operações políticas da bn3 – Marketing Baseado em Números

Antigamente, o político se preparava para a eleição. Hoje, ele vive nela.
O calendário eleitoral, antes limitado por prazos e formalidades, foi engolido por um ecossistema digital que não tem início nem fim definidos. O algoritmo não espera o registro de candidatura. O eleitor não desliga a atenção. A política virou uma maratona que nunca termina.
A pré-campanha, que por muito tempo foi tratada como uma fase de bastidor, discreta e silenciosa, tornou-se o verdadeiro palco da disputa. É nesse período que se formam as percepções, se consolidam narrativas e se definem os enquadramentos que o público levará até a urna.
Quem chega forte em agosto, começou a construir isso e com antecipação.
A revolução silenciosa das ferramentas
As redes sociais e as ferramentas de mídia paga mudaram o jogo. O que antes era trabalho de comício, rádio e carro de som, agora acontece no ambiente digital, com base em dados, segmentações e leitura de comportamento. Os algoritmos recompensam constância e relevância.
Quem comunica de forma contínua não apenas cresce mais, mas constrói comunidade. E comunidade é o novo capital político.
Pense num vereador que só aparece seis meses antes da eleição. Ele disputa atenção com dezenas de outros que estão há meses falando sobre problemas reais, respondendo comentários, construindo diálogos. A comparação é desigual. O eleitor percebe a diferença entre presença e oportunismo.
Presença não é aparecer
Mais do que aparecer, a lógica atual exige presença. Não basta um vídeo bem produzido ou um post de impacto. É preciso uma rotina de conteúdo que conecte o candidato a causas, valores e pessoas.
A audiência se forma pela coerência.
O eleitor percebe quando o discurso surge apenas no período eleitoral e pune o improviso com desinteresse. Ele pode não saber explicar tecnicamente por que determinado político “não convence”, mas sente. E é essa sensação que se traduz em voto ou na ausência dele.
Exposição sem descanso
Vivemos, portanto, um tempo de exposição contínua. Candidatos, mandatos e partidos ocupam o mesmo espaço digital, competindo por atenção em um ambiente que não faz distinção entre o gestor e o pré-candidato.
Na prática, todos estão em campanha o tempo todo, mesmo quando dizem que não estão.
O desafio agora é manter coerência em meio ao fluxo permanente. O político que entende essa lógica não fala apenas para vencer uma eleição. Ele fala para ocupar um espaço estável de relevância e confiança.
No fim, quem domina a pré-campanha permanente não se prepara apenas para o voto. Aprende a não desaparecer.






