
A sabedoria de botequim tem adeptos, mas na vida real não funciona assim.
Começo pelo que interessa: dados. Um estudo conduzido pelo Instituto Opus a partir de uma provocação do consultor Abel Lumer comparou dois estilos de comunicação política: a estética performática de Rodrigo Manga e a linguagem “convencional” de Tarcísio de Freitas. Resultado? Manga vence nas vaidades métricas (engajamento quase três vezes maior no Instagram), mas perde onde mora a reputação: clareza (51% entendem Manga; 78% entendem Tarcísio) e adequação (82% dos entrevistados consideram a linguagem de Tarcísio mais apropriada para um político). Em retenção de conteúdo, empate técnico. Ou seja: muito barulho, pouca memória útil.
A mesma pesquisa lembra outro ponto incômodo para a tese do “falem mal”: quando o político vira assunto por polêmica, o veredicto do público é majoritariamente negativo — no caso citado, cerca de 75% reprovaram atitudes midiáticas de um governador em episódios recentes. Visibilidade, sim; reputação, nem tanto.
Não é exclusividade da política. No mercado, a régua é igual ou mais severa. Os relatórios anuais da Edelman mostram há décadas que confiança compete com preço e qualidade como critério de compra. Pode pôr o preço no chão: se a marca parece encrenca, o cliente sai correndo. Matemática básica da reputação.
A máxima de que publicidade negativa pode ajudar até existe, mas tem um asterisco gigante. A literatura clássica mostra que às vezes a crítica levanta a bolaquando ninguém conhece você. A polêmica pode funcionar como holofote para um desconhecido, mas se você já tem certa notoriedade, cuidado. Para marcas e líderes estabelecidos, “falem mal” costuma ser apenas… “falem mal”.
Likes sinalizam curiosidade, mas só fica na memória o que é entendido. O caso Manga × Tarcísio é didático: mais views, menos clareza, e um empate em retenção que expõe o limite do espetáculo. Algoritmos amam conflito, mas as pessoas compram previsibilidade. Quando você terceiriza sua estratégia para o impacto, terceiriza também a reputação, que fica à mercê do próximo trending topic. Mas você lembra do colchão reputacional? Pois é, ele acaba.
No fim, o que interessa é: a mensagem foi entendida, lembrada e escolhida? Curtida não mede compreensão e apreensão de conteúdo. Então antes de publicar um conteúdo, teste com gente de fora do time (umas 15 pessoas já resolvem): se pelo menos 70% não conseguem resumir a ideia em uma frase, volte e ajuste. Dois dias depois, pergunte de novo o que ficou. Se metade não lembra o ponto central, a peça está confusa. A forma não pode atropelar a compreensão. Apresente uma ideia, dê uma prova (número, caso real, demonstração) e faça um pedido claro. Todo o resto é barulho que não ajuda a decidir e ainda custa caro.