A força silenciosa do agro pode virar decisiva no tabuleiro eleitoral

Depois de meses de pressão, o governo federal cedeu e decidiu retomar a investigação antidumping sobre as importações de leite em pó da Argentina e do Uruguai – medida que pode destravar barreiras tarifárias emergenciais e resgatar a competitividade da produção nacional.

Parlamentares catarinenses, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Frente Parlamentar em Apoio ao Produtor de Leite celebraram a reversão de entendimento, mas cobram medidas provisórias imediatas.

Enquanto isso, prefeitos gaúchos cruzam a fronteira para conhecer o modelo catarinense de combate ao granizo, e o novo diretor do IICA quer fortalecer o seguro rural nas Américas.

Governo volta atrás e reabre processo contra dumping no leite

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) anunciou, na terça-feira (2), a retomada da investigação antidumping sobre as importações de leite em pó da Argentina e do Uruguai. O processo estava paralisado desde agosto, quando o governo questionou a legitimidade da petição apresentada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a similaridade entre leite em pó e leite in natura.

A decisão foi comunicada durante reunião com o ministro Geraldo Alckmin, a CNA, parlamentares e entidades do setor. A expectativa agora é de que o MDIC imponha medidas provisórias, como tarifas emergenciais sobre o leite importado, para frear os prejuízos da cadeia leiteira.

“O produtor merece respeito”, diz Cobalchini

O deputado federal Valdir Cobalchini (MDB-SC) confirmou, em plenário, que a Secretaria de Comércio Exterior do MDIC sinalizou positivamente sobre a retomada da investigação e defendeu a aplicação imediata das tarifas antidumping:

“O produtor brasileiro merece respeito. Chega de favorecer importações enquanto quem produz aqui enfrenta prejuízo”.

Segundo ele, a decisão é fruto de audiências públicas, articulações políticas e pressão permanente da bancada do leite.

Pezenti: “Argentina quer exterminar os produtores brasileiros”

O deputado Rafael Pezenti (MDB-SC), diretor da Frente Parlamentar em Apoio ao Produtor de Leite (FPPL), também reagiu:

“A Argentina coloca leite aqui no Brasil num preço 53% menor do que vende lá dentro do seu próprio país. Com qual finalidade? Exterminar os produtores brasileiros, pra depois tomar conta do nosso mercado”.

Pezenti lembrou que a CNA já demonstrou a prática de dumping e que o Brasil não pode assistir passivamente à destruição da sua cadeia leiteira. Ele cobrou ações imediatas para proteger o produtor.

Sistema antigranizo de SC vira modelo para o Sul

Após tempestades severas no final de novembro, prefeitos de 21 municípios gaúchos decidiram buscar em Santa Catarina a inspiração para a criação de sistemas antigranizo.

Uma comitiva do Rio Grande do Sul visitará SC em janeiro para conhecer o modelo adotado há mais de 30 anos por 13 municípios catarinenses, em parceria com a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária (SAR).

A tecnologia utiliza iodeto de prata e estações meteorológicas para reduzir o tamanho dos cristais de gelo, evitando estragos em pomares e lavouras. A cidade de Caxias do Sul, epicentro das perdas recentes, lidera a articulação com apoio do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura (Fundovitis).

“Percebemos que o sistema mais viável, pensando de forma coletiva, é o usado em Santa Catarina”, afirmou Rudimar Menegotto, secretário de Agricultura do município gaúcho.

IICA quer seguro rural mais acessível e regionalizado

O novo diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) – considerado a “OEA do Agro”, Muhammad Ibrahim, toma posse no próximo dia 15 de janeiro e já antecipa seu foco: fortalecer os sistemas de seguro rural nas Américas como resposta aos eventos climáticos extremos.

Entre os planos está a construção de parcerias público-privadas para baratear os custos das apólices e torná-las acessíveis a pequenos produtores. A instituição, sediada na Costa Rica, articula 34 países e tem poder de influência estratégica sobre a agenda agropecuária continental.

Ibrahim também sinalizou o desejo de estreitar os laços entre o Brasil e o Caribe, citando a Embrapa e a Guiana como protagonistas na cooperação tecnológica e sanitária.

O agro quer menos promessa e mais blindagem

A reabertura da investigação contra o leite importado mostra que, quando o agro pressiona junto, o governo recua. Mas a medida ainda é tímida frente ao estrago já causado nas propriedades leiteiras, especialmente em estados como Santa Catarina, onde o produtor paga para trabalhar.

No campo climático, Santa Catarina virou exemplo nacional. Enquanto o país se reergue de granizo, enchente e estiagem, o modelo de proteção em rede precisa ganhar escala e financiamento.

E olhando para o continente, o novo comando do IICA mira justamente onde a dor aperta: clima e seguro rural.

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