Carlos Humberto escreve artigo em que critica a diferença na resposta e na cobertura midiática entre a pandemia de Covid-19 e a atual epidemia de dengue no Brasil, questionando a falta de mobilização e investimento do governo federal e da mídia.
Durante a epidemia da Covid-19 o governo federal, então comandado por Jair Bolsonaro (PL), foi duramente cobrado para que comprasse vacinas e investisse em um sistema de saúde historicamente desestruturado para fazer frente à demanda de infectados pela doença. A grande imprensa fazia acompanhamento praticamente minuto a minuto do número de infectados, internados e de mortos pela doença. Em dezembro de 2021, 172 milhões de brasileiros já haviam recebido duas doses da vacina, de acordo com o Ministério da Saúde.
Este ano o Brasil atravessa uma epidemia de dengue nunca vista na história. São 4 mil mortos e mais de 6 milhões de casos. É um desastre jamais visto e não assistimos ao apelo midiático dos tempos da covid. O atual governo importou 6 milhões de doses de vacina da dengue, o que não cobre nem 2% da população brasileira. Mesmo tendo tido um ano para se preparar, pois havia previsão que o cenário da doença iria piorar devido a inúmeras condições, praticamente nada foi feito.
O pânico gerado durante a pandemia do coronavírus foi drástico e, embora conheçamos as causas da dengue há muitos anos, como prevenir e com uma vacina já testada, a mobilização, tanto da grande mídia como do governo federal, foi nula. Sem campanhas de conscientização sobre água parada, as equipes de saúde desmobilizadas e vacinas em número infinitamente pequeno mostram o descaso com essa tragédia que nos atinge e que não é de hoje.
Ano após ano, as estatísticas só pioram. O gráfico das mortes é assustador. O trauma das vacinas da covid, usadas sem serem testadas, afastou as pessoas da prevenção contra a dengue. O Instituto Butantan passa pela última fase de teste em dose única, portanto, somente ano que vem teremos um imunizante com produção nacional. Até lá, importamos da Indonésia e da União Europeia, que precisam de duas doses.
Por fim, fica a dúvida do que está por trás desse silêncio ensurdecedor em relação à dengue, depois do caos instalado e o terror causado na população por causa da covid-19. Há uma evidente diferença de tratamento do judiciário entre os governos Bolsonaro e Lula. Os relatos dos infectados com dengue são terríveis. Não faz sentido e não é justo que a população seja usada por motivos políticos, em campanhas ou na falta delas, a depender de quem está na principal cadeira do país.
Carlos Humberto é deputado estadual pelo PL.