Adriana Zanqueta escreve artigo sobre o aumento da violência contra crianças e adolescentes no Brasil, destacando a necessidade de capacitação profissional para abordar essa questão.
O ciclo da violência está em curva ascendente no Brasil. Somente no primeiro trimestre de 2024, 66 mil casos de abusos contra crianças e adolescentes foram registrados pelo disque 100, de acordo com informações do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Isso significa um aumento de 26,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Na maior parte, situações que envolvem violência sexual, física, psíquica e negligência.
Somente em relação à violência sexual, o mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde apontou que, entre 2015 e 2021, foram 83.571 casos registrados contra crianças até 9 anos; 119.377 contra adolescentes de 10 a 19 anos; e 3.386 envolvendo bebês com até um ano de idade, sendo em sua maioria estupro, assédio e pornografia.
Os números, por si só, são alarmantes e revoltantes. Isso sem considerar que há um muro de silêncio que escondem as subnotificações. Mais que números, são vidas. Vidas que precisam de atenção, proteção e acompanhamento.
O Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente Vítima ou Testemunha de Violência foi criado pela Lei nº 13.431, de 2017, regulamentado regulamentada pelo Decreto nº 9.603, de 2018, estabeleceu os procedimentos da escuta especializada e do depoimento especial como métodos adequados para que crianças e adolescentes possam ser ouvidos. É imprescindível que abordagem seja de forma humanizada e ética, para evitar que as vítimas revivam reiteradamente momentos traumáticos de violência.
Para que os profissionais possam se capacitar e, assim, realizarem os atendimentos de forma eficaz, a Fundação de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos (Fepese) lançou o Workshop Intensivo Escuta Especializada Sem Erros. Um curso virtual e gratuito, que está com inscrições abertas, e que será realizado no dia 19 de junho.
O conteúdo é dos professores e psicólogos Iramaia Ranai Gallerani e Rudinei Luiz Beltrame, que irão ministrar a capacitação. O objetivo é fornecer ferramentas práticas e teóricas para lidar sensivelmente com a realidade da violência contra crianças e adolescentes, capacitando os participantes para uma abordagem respeitosa e profícua desses casos.
Não podemos fechar os olhos e tapar os ouvidos para essa triste realidade. Sendo assim, é fundamental que profissionais de diversas áreas, incluindo saúde, assistência social, educação, segurança pública, conselheiros tutelares e demais membros do Sistema de Garantia de Direitos participem.
A capacitação para a realização desses tipos de escuta, não apenas contribui para a redução dos índices de violência sexual e vitimização de crianças e adolescentes, como também abre uma nova perspectiva de atuação dos profissionais envolvidos. Com conhecimento sobre o processo e atendimento adequado, poderemos minimizar esse cenário tão cruel.
Adriana Zanqueta Wilbert Ito é assistente Social e cordenadora da Formação Avançada em Escuta Especializada da Fepese.