Artigo de Andréa Vergani, Diretora de Micro e Pequenos Negócios da Prefeitura de Florianópolis

Em novembro, o olhar volta-se para o empreendedorismo feminino, um movimento que ganhou força com o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, celebrado no dia 19, mas que precisa ser lembrado e fortalecido durante todo o mês. Uma data necessária e não apenas simbólica. Falar de mulheres empreendedoras é falar de autonomia, justiça social, desenvolvimento econômico e, acima de tudo, de transformação de vidas.
Mas os desafios ainda são muitos. Um estudo do Sebrae Nacional, com base em dados do Banco Central, escancarou a desigualdade de gênero nos negócios. A pesquisa revelou que, no primeiro trimestre de 2024, enquanto a taxa média de juros dos financiamentos contratados por donos de pequenos negócios foi de 36,8% ao ano, para as mulheres chegou a 40,6%.
Além de arcarem com juros mais altos, as mulheres recebem uma fatia menor dos recursos disponíveis no mercado de crédito. Elas representam quase 40% das 23,1 milhões de operações realizadas no período, mas ficaram com apenas 29,4% dos R$ 109 bilhões destinados ao segmento. Ou seja: quando o negócio é liderado por um homem, o crédito tende a ser maior.
Essa não foi a primeira pesquisa a expor a desigualdade entre empreendedores homens e mulheres. Em 2018, o Sebrae/SC já havia divulgado dados semelhantes. Além da dificuldade de acesso ao crédito e das taxas mais altas, as mulheres ainda enfrentam obstáculos enraizados na desigualdade de gênero da nossa sociedade.
Dentro de casa, os desafios também são profundos. Muitas não encontram apoio dos parceiros para investir tempo e recursos em seus negócios. A divisão desigual do trabalho doméstico e do cuidado impacta diretamente suas trajetórias. Não são raras as vezes em que mulheres trabalham de madrugada, depois de dar banho, preparar o jantar, organizar a casa e colocar os filhos para dormir, já que sobre elas recaem a maior parte das responsabilidades familiares.
A ausência de incentivo do parceiro e a falta de divisão adequada das tarefas contribuem para que muitas empreendedoras não consigam avançar. E, enquanto grande parte das mulheres empreende por necessidade, a maioria dos homens empreende por oportunidade.
O empreendedorismo materno é um exemplo dessa realidade. Muitas mulheres iniciam seus negócios após a maternidade: por terem sido dispensadas ao retornar da licença, por não conseguirem vaga em creche integral ou por buscarem uma forma mais humana de conciliar trabalho e cuidado. Assim, o empreendedorismo torna-se a saída possível para mães dispensadas, mães sem rede de apoio, mães solo, mães de filhos com deficiência e tantas outras que encontram na desigualdade de gênero o ponto de partida dos seus desafios.
A violência doméstica e a dificuldade de recolocação após determinada idade também empurram muitas mulheres para o empreendedorismo. É fundamental reconhecer esses componentes estruturais e socioculturais, assim como a necessidade de ações articuladas entre setor público e iniciativa privada, desde políticas de cuidado até o debate sobre os papéis de gênero.
Recentemente, a terceira edição do Delas Summit reuniu mais de 7.500 mulheres, de áreas e trajetórias completamente diferentes, confirmando o que já sabemos: o empreendedorismo feminino é potência, é movimento, é transformação. E não é exagero dizer: o empreendedorismo feminino salva vidas. Todos os dias.
Mulheres empreendedoras, mais do que gerar lucro, geram impacto. E os impactos social, econômico e ambiental dos negócios liderados por mulheres precisam ser reconhecidos. Empreendimentos femininos carregam uma visão mais colaborativa, inclusiva e sustentável, irradiando transformação para todo o seu entorno. Além disso, mulheres reinvestem seus recursos no bem-estar da família e da comunidade, priorizando educação, saúde e desenvolvimento local.
Mulheres que empreendem se movem por propósito. Trabalham para construir um mundo melhor e produzem transformação social todos os dias, na prática. Ser mulher e empreender é muito mais do que abrir um negócio: é enfrentar jornadas duplas ou triplas, romper preconceitos, ocupar espaços e, ainda assim, gerar impacto real na economia e na sociedade.
Porque o empreendedorismo feminino não é apenas sobre negócios. É sobre futuro e sobre dignidade. É sobre liberdade. É sobre transformar vidas, começando pela nossa e alcançando toda a comunidade.







