Essa história não é o que vossas mentes poluídas pensaram. É um desses fatos pitorescos que passarei a contar aqui no upiara.net quinzenalmente. O ex-deputado Gervásio Silva, ou simplesmente Gegê, falecido em 2021, aos 65 anos, era uma figura sensacional. Político raiz, boa praça, protagonizou várias histórias engraçadas da política catarinense.
Começou na política como vice do lendário prefeito de São José, Germano Vieira, em 1993. Vieira, que administrava o município pela terceira vez, acabou sendo cassado no primeiro ano de Governo e Gegê assumiu a prefeitura, completando o mandato.
Conheci ele em 1998, quando disputou a primeira eleição de deputado federal. Antes de ele fazer a cirurgia bariátrica. Nessa época eu trabalhava na campanha do deputado estadual Reno Caramori e ele fez uma dobradinha com Gegê, lá no Vale do Rio do Peixe.
O PP, que na época era PPB, disputava a eleição coligado com o então PFL. Esperidião Amin foi eleito governador, tendo Paulo Bauer, do PFL, como vice.
Lá na região a turma do PFL apoiava Caramori para deputado estadual e como contrapartida ele e os progressistas pediam votos para os federais do PFL, Gegê e Pedrinho Bitencourt.
Como sempre, ocorreram algumas traições de progressistas tradicionais que apoiaram Gilson dos Santos, que acabou na suplência e depois foi contemplado por Amin com uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas.
Fizemos uma grande reunião em Caçador, com as equipes de trabalho do Reno Caramori e do Gervásio Silva. Depois rolou uma janta e uns tragos, na sede social da empresa Reunidas, empresade transporte da família Caramori.
Na hora de ir para casa, já tarde da noite, Gegê e seu coordenador de campanha, o Jacobus – também já falecido e figura muito conhecida da política de Santa Catarina- não haviam reservado hotel.
Em Caçador, naquela época, havia apenas três hotéis e estavam todos praticamente lotados.
Conseguimos no antigo Hotel Ronda um quarto com duas camas de solteiro. Jacobus decidiu dormir no hotel. Gegê sequer cabia na cama de solteiro.
Naquela altura da noite, só havia uma solução. Lembro que estávamos com um Tempra – era um carrão na época. Eu e o então vereador Telmo Francisco da Silva, que apoiava Gegê.
Partimos os três para o motel Status. O único lugar que tinha uma cama confortável para o candidato passar a noite. A chegada foi estranha. Telmo, que estava dirigindo, foi logo explicando para a recepcionista:
– Apenas queremos deixar uma pessoa dormindo aqui, porque na cidade não tem hotel. Amanhã cedo voltaremos para buscar.
E assim entramos no motel levando o nosso amigo Gegê que ficou dormindo lá, confortavelmente em uma cama redonda rodeado de espelhos. E nós fomos dormir em nossas casas.
Gervásio Silva foi eleito deputado federal em 1998 e reeleito nos pleitos de 2002 e 2006. Em 2010 ficou na primeira suplência e depois acabou assumindo, quando Marco Tebaldi (também já falecido) se licenciou para ser secretário de Educação.