A prefeitura de Florianópolis precisa voltar a ser pública. Por Lela

Lela escreve artigo em que critica a gestão pública de Florianópolis, destacando a falta de obras estruturantes, ineficiência no transporte coletivo e escândalos de corrupção na terceirização de serviços como a coleta de lixo.

Todos temos orgulho da nossa cidade, desse encanto que é a nossa gente, cultura e belezas naturais. Mas também é evidente que, nos últimos anos, quem vive em Florianópolis está cada vez mais insatisfeito, seja parado no trânsito, em ônibus lotados, esperando horas por um atendimento de saúde ou vendo a sua praia preferida ficar imprópria para banho. E tudo isso tem um motivo: a falta de gestão pública de verdade.

Como podemos explicar que um município com orçamento de quase R$ 4 bilhões por ano não possui obras estruturantes para mobilidade urbana? Estamos em uma cidade polo de empresas de inovação, mas não temos um sistema de semáforo inteligente que amenize as filas quilométricas durante todo o ano – até um passado recente, o trânsito era motivo de reclamação somente na alta temporada. No transporte coletivo, os passageiros chegam a demorar mais de duas horas para percorrer um trajeto de um bairro para outro na mesma região. Aliás, sistema que está nas mãos das mesmas empresas há décadas.

Este quadro tem piorado nos últimos anos com um novo componente, que é a má vontade política para gerir serviços públicos. Com isso, a prefeitura repassa para empresas privadas o trabalho que deveria ser seu, concentrando o dinheiro nas mãos de uma pequena parcela de privilegiados. E no lado oposto dessa balança, a população pena por um atendimento de qualidade.

O exemplo mais recente foi todo o esforço da prefeitura para terceirizar a coleta de lixo. Colocou uma empresa sem licitação para atuar em parte da cidade e o resultado todos nós já conhecemos: um serviço de má qualidade e operações policiais trazendo à tona escândalos de corrupção, além dos crimes ambientais.

Para quem não lembra, primeiro foi deflagrada a Operação Presságio, em janeiro deste ano, quando foram cumpridos mais de 20 mandados de busca e apreensão. Um dos investigados está preso atualmente. Na mesma época, a prestadora do serviço estava jogando o material em um terreno a poucos metros da Baía Sul. Essa investigação teve mais duas fases, em maio, com prisões de suspeitos, e agora no dia 28 de junho, trazendo à tona um escândalo sem precedentes.

Já em maio, a Operação Coleta Seletiva apontou, novamente, falhas nas licitações da Capital e em outras cidades catarinenses.

Mas essas irregularidades não acontecem somente na coleta de lixo. Enquanto vereador, denunciei e ajudei a derrubar a máfia dos radares e o contrato com uma empresa fantasma que tinha vencido a licitação para gerir o almoxarifado da prefeitura.

É nítido que falta coragem e sobra incapacidade de fazer gestão, de criar projetos e trazer recursos para Florianópolis. Enquanto gastam tempo para elaborar um discurso ilusório contra o serviço público, esse mesmo grupo de gestores esquece do saneamento básico – a capital é uma das cidades que menos evoluiu na coleta de esgoto, segundo o Ranking do Saneamento 2024 –, da mobilidade urbana e do acesso à saúde pública.

Temos que pensar soluções inteligentes para que a nossa Capital tenha um alívio deste trânsito que sufoca milhares de trabalhadores todos os dias. Criar parcerias e ir atrás de investimentos para aumentar a coleta e o tratamento de esgoto para que, num futuro próximo, possamos recuperar parte de nossos balneários e trazer mais dignidade para as pessoas.

Também é necessário elaborar projetos para educação e saúde pensando nas pessoas. Ou seja, longe desse “faz de conta” que é montar um “hospital” num galpão distante de quem mais precisa, a população, e fechar a unidade que ficava ao lado do terminal de ônibus.

Não podemos mais ser uma cidade que se acostumou a jogar para baixo do tapete as verdadeiras causas dos problemas, maquiando o município para a temporada e nas propagandas da prefeitura. Vamos construir uma cidade para todos, e não para poucos.


Lela é pré-candidato a Prefeitura da Capital pelo PT.

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