Artigo de Juliana Galliano, Especialista em ESG e inovação social

Entramos no Agosto Lilás, dedicado à conscientização pelo fim da violência contra a mulher, e, mais uma vez, o Brasil se depara com um caso brutal. Nesta semana, um vídeo divulgado nas redes sociais chocou o país ao mostrar um homem agredindo sua companheira com 61 socos em 30 segundos. A cena escancara a agressividade extrema e a vulnerabilidade a que muitas mulheres ainda estão expostas.
Não é um caso isolado. Recentemente, uma mulher foi agredida violentamente por um casal em Florianópolis. Socos, chutes e pauladas marcaram o ataque, que circulou amplamente na internet. E ainda há as situações corporativas, como o de uma trabalhadora impedida por uma grande indústria de deixar o posto de trabalho para dar à luz — o que resultou na perda dos bebês.
Esses episódios mostram que a violência não se resume à agressão física e também não é apenas de homem contra mulher. Porém, em todas elas, sempre tem uma mulher vítima. Segundo o Atlas da Violência 2025 (Ipea e FBSP), enquanto cerca de 6% dos homens vítimas de violência foram assassinados por parceiras íntimas, esse percentual chega a quase 70% com as mulheres. Ou seja, mulheres têm sete vezes mais chances de morrer do que os homens nestas situações.
Não basta apenas o “Denuncie”. É urgente investir em prevenção, que ajudem a identificar comportamentos violentos desde os primeiros sinais: nas palavras que machucam lá no fundo, mas não são ditas em tom agressivo, nos olhares de julgamento, nos silêncios estratégicos, na desqualificação constante. Justamente por não serem explícitas, essas violências passam despercebidas — ou são justificadas e normalizadas, sendo instauradas em nossa sociedade. Aparecem no ambiente de trabalho, nas relações políticas, entre pais e filhos, casais, colegas e amigos. São comportamentos que seguem se reproduzindo de forma contínua e silenciosa.
A cultura da violência começa cedo, e por isso, sou defensora da implementação de programas de inteligência emocional nas escolas, desde a infância. Ensinar a reconhecer e expressar emoções, lidar com frustrações, desenvolver empatia e respeito mútuo é um passo essencial para romper o ciclo da violência. A escola, como espaço de formação humana, tem papel estratégico na mudança cultural que o país precisa promover. A prevenção não pode ser apenas punitiva ou reativa — ela precisa ser educativa, cotidiana, estruturada.
A reflexão coletiva é fundamental. “Como tratamos o outro? Como educamos nossos filhos? Como nos comunicamos?”. A violência pode começar nas palavras, nos gestos, no descaso. E se perpetua quando ignorada. Por isso, ela pode estar aí, disfarçada de silêncio. E você nem percebeu.