Na reta final do ano, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) jogou luz sobre 2026, mas com bem menos brilho.

Apesar de ter sustentado os indicadores econômicos de 2025, o setor vai entrar no novo ciclo com endividamento elevado, clima instável, tarifas externas pesadas e um seguro rural enfraquecido.
O balanço apresentado pela entidade à imprensa, ontem, dia 9, traz alertas importantes para o produtor: o agro pode crescer 1% no ano que vem, mas sem previsibilidade, sem apoio, sem proteção climática e com a pressão do mercado internacional, os números podem virar estatística de prejuízo.
CNA alerta: de sustentáculo da economia a alerta fiscal
Segundo a CNA, o agro evitou um estouro na meta de inflação em 2025. O PIB do setor cresceu 9,6% e atingiu R$ 3,13 trilhões. Mas o cenário para 2026 é de cautela: a projeção de crescimento é de apenas 1%, em um ambiente de cobrança fiscal mais forte e risco de aumento de tributação.
Endividamento em alta e seguro em baixa
A inadimplência no crédito rural atingiu 11,4% em outubro, maior índice desde 2011. A CNA aponta juros altos, clima adverso, commodities em queda e falta de seguro rural como fatores críticos.
O Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural cobriu apenas 2,2 milhões de hectares, pior resultado desde 2007.
VBP e produção: soja segura, carne preocupa
O Valor Bruto da Produção deve crescer 5,1% em 2026, alcançando R$ 1,57 trilhão. A agricultura avança 6,6%, puxada por soja e milho. A pecuária sobe apenas 2,2% e preocupa: a CNA estima queda de 4,5% na produção de carne bovina, com oferta reduzida e arroba em alta.
Tarifaço e salvaguardas: os fantasmas de fora
Para 2026, a CNA estima perdas de até US$ 2,7 bilhões com as tarifas adicionais aplicadas pelos EUA. Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da CNA, destaca que produtos como sebo, mel e pescados ficaram de fora das exceções e seguem penalizados.
Na China, o risco é de salvaguardas sobre a carne bovina. Na União Europeia, a preocupação é com as salvaguardas do acordo Mercosul-UE e os efeitos da legislação antidesmatamento.
O agro é estratégico, mas segue sem blindagem comercial.
Efeitos colaterais
A Confederação também alertou para uma espécie de efeitos colaterais dos acordos entre os Estados Unidos e os outros países. Segundo a diretora, Sueme Mori, esse é o “principal movimento” que o setor deve estar atento em 2026.
“A maioria dos acordos que os Estados Unidos têm firmado têm três componentes: primeiro, acesso ao mercado, então redução de barreiras tarifárias, redução de barreiras não tarifárias; segundo, um compromisso de investimentos no mercado americano, nas indústrias americanas; terceiro, um compromisso de compras de produtos, na sua maioria produtos agropecuários americanos. Isso tem muita relevância para nós”, destacou Mori.
Mercosul-UE: salvaguardas apertam
A Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu aprovou medidas que podem limitar o acesso de produtos do Mercosul, como carne bovina e aves.
As alterações antecipam investigações, reduzem prazos e preveem reciprocidade nos padrões de produção. A votação final ocorre entre os dias 15 e 18 de dezembro.
A assinatura do acordo final segue prevista para o dia 20, aqui no Brasil.
Alho entra no ZARC e ganha proteção climática
O alho passou a integrar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), ferramenta do Mapa que define as regiões e datas mais seguras para plantio. A medida garante acesso a Proagro e Seguro Rural.
Santa Catarina está entre os principais produtores nacionais. O zoneamento contempla cultivares nobres irrigadas, com foco nas diferenças entre regiões tropicais e subtropicais.
Corsino: “alhinho” com impacto social gigante
Para Rafael Jorge Corsino, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa) e da Câmara Setorial do Alho, a inclusão no ZARC é resultado de anos de articulação do setor:
“O alho emprega cerca de 16 trabalhadores por hectare. O zoneamento ajuda a reduzir perdas e ampliar o acesso a políticas públicas. Nós temos solo, altitude e irrigação favoráveis. Agora temos também previsão e segurança”.
Agro sem almofada
O agro foi pilar da economia em 2025, mas vai entrar em 2026 sem rede de segurança. É alta nos juros, é tarifa lá fora, é custo no insumo e clima instável no campo. Quando o solo endurece, é a gestão que precisa amaciar.
E política agrícola não pode ser esticada como lona furada: hora de garantir previsão, apoio, proteção e voz ativa pro agro que sustenta, exporta e alimenta.





