Amor e o velho barqueiro. Por João Aderson Flores

Artigo de João Aderson Flores, professor e psicólogo

Em meu trabalho como palestrante motivacional, sempre preguei que, só reclamar da vida, da sorte e/ou das pessoas que integram as equipes, pode criar desestímulo e desmotivação; porque é penoso conviver com pessoas que reclamam de tudo, gerando clima tóxico/negativo e afetando a paz e a saúde mental e emocional de quem está próximo, especificamente familiares e colegas de time, debilitando também o foco nas metas e objetivos.

Isso foi feito na preparação psicológica de equipes de futebol profissional como Figueirense, Avaí e Grêmio, nesta com os amigos Ney Viegas e Oberdan Vilain, ex-treinador e eterno craque daquele time; no Sindicato de Árbitros de Futebol de Santa Catarina; no Iate Clube Veleiros da Ilha, com equipes de vela da Classe Optimist; na Fundação Municipal de Esportes, com as equipes de handebol, sob a batuta do mestre Ivair de Luca, e no ciclismo, com o precursor dos grandes campeões Milton Della Giustina; além de na ONG Amor Exigente, sob a coordenação do Coronel Walmor Machado.

Hoje continuo reverberando, nos trabalhos como coach: pais, gestores de Recursos Humanos, técnicos de modalidades esportivas de alta performance e líderes empresariais não podem se dar ao luxo de ignorar as reclamações. Uma coisa é a reclamação eventual, passageira, outra é sacrificar a capacidade de concentração, que a reclamação recorrente diminui bastante, pois o cérebro está sempre em modo “problema”. Tudo isso afeta a qualidade de vida do grupo.

Há uma “prateleira” de soluções e remédios: foco na solução, mais contato com pessoas positivas, reconhecer seu papel na vida, mudança de olhar em relação ao futuro, praticar mindfulness e/ou meditação e terapia (que ajuda a entender as causas do sofrimento e a criar estratégias de enfrentamento). Um bom fundamento é a Psicologia Positiva, criada por Martin Seligman, professor na Universidade de Pensilvânia, que propõe entender e cultivar o que torna a vida mais satisfatória e significativa: o engajamento, o comprometimento, as relações saudáveis e a realização pessoal.

Seja positivo! Às vezes, como catarse, soltamos um desabafo sobre aquele membro do time que entrega pouco, o que pode ser útil em um primeiro momento, mas se torna negativo quando vira recorrente. A reclamação crônica mantém o cérebro em constante estado de alerta, podendo levar a uma série de efeitos nocivos à saúde física e psicológica,  tais como danos em neurônios, atrofia de áreas cerebrais (como hipocampo, importante para a memória, e córtex cerebral pré- frontal, essencial para funções cognitivas e executivas como autocontrole, planejamento, resolução de problemas e foco atencional, tão festejado atualmente nos esportes de elite).

Ah! Os trabalhos referidos no início deste artigo consistiam em entrevistas de apoio psicológico e workshops motivacionais e de alta performance. Invariavelmente eram concluídos com fábulas de La Fontaine, Esopo, Monteiro Lobato e Malba Tahan. E aqui, o ponto central, em “Amor e o velho barqueiro”, Malba Tahan narra a jornada do Amor em busca de alguém que o leve para o outro lado de um grande rio, sendo que o Sofrimento e o Desprezo se recusam a ajudar, mas o Tempo, o barqueiro mais velho, concorda em levá-lo.

É preciso praticar pausas para respirar e mudar a perspectiva; não ter medo do medo. E não ter constrangimento em pedir ajuda. Remar como time e com propósito na direção que leva ao sucesso. Abandonar as crenças limitantes – isso não dá, isso eu não posso. Tudo é possível com motivação, força de vontade e estratégias. É preciso usar os dois remos simultaneamente, substituir o hábito de reclamar, pelo de agir em busca de soluções. Esse barco pode ser chamado de autoconfiança!

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