Mario Dutra escreve artigo sobre os desafios do transporte público em Santa Catarina, destacando os reajustes tarifários acima da inflação e propondo alternativas como a Tarifa Zero. Ele critica a crise de mobilidade urbana e sugere soluções para democratizar o acesso e reduzir impactos climáticos.
Início de ano e, mais uma vez, uma onda de reajustes nas tarifas do transporte público coletivo nas cidades de Santa Catarina.
Entre as 14 cidades com mais de 100 mil habitantes em nosso estado, pelo menos seis já definiram os novos valores para o transporte coletivo em 2025. Na Grande Florianópolis, o reajuste foi de 12,54%, enquanto em São José e Palhoça, o passe subiu de R$ 5,20 e R$ 5,10 para R$ 6,00 e R$ 5,70, respectivamente. Esses índices, muito acima da inflação, que fechou o ano em 4,9%, chamam a atenção. Porém, não superam o aumento registrado em Joinville, no Norte do estado, com um reajuste de 13,6%. A tarifa na maior cidade catarinense saltou de R$ 5,50 para R$ 6,25.
Reajustes também foram anunciados em Chapecó, Jaraguá do Sul e Lages. Entre as cidades menores, Biguaçu e Videira já confirmaram aumentos.
É certo que o transporte público enfrenta uma crise sem precedentes. Na maioria das cidades, houve uma redução significativa no número de usuários nos últimos anos, situação que foi agravada pela pandemia. Em Joinville, por exemplo, o número de passageiros era de quase 44 milhões por ano em 2014. Em 2023, caiu para 25 milhões.
Cada cidade possui uma realidade específica, mas é possível observar um padrão geral:
• De um lado, o processo de uberização, que oferece deslocamentos mais confortáveis e, muitas vezes, mais baratos quando compartilhados.
• De outro, sucessivos reajustes acima da inflação, combinados à redução de frotas e linhas.
Esse cenário resulta em um transporte caro e ineficiente, afastando ainda mais os usuários.
O transporte público coletivo é peça-chave para a mobilidade urbana, especialmente nas grandes cidades. Além de reduzir congestionamentos, ele é essencial para mitigar os impactos da crise climática, diminuindo o número de veículos individuais em circulação.
Um exemplo interessante vem de Brusque, onde a prefeitura repensou o sistema de transporte coletivo. O estudo realizado indicou a necessidade de ampliar o número de linhas, renovar a frota, construir novos terminais e, surpreendentemente, reduzir a tarifa para os usuários. Essa iniciativa vai na contramão da maioria das cidades catarinenses — felizmente.
Outras cidades de Santa Catarina enfrentaram o problema pela raiz. Já são oito municípios com gratuidade universal no transporte público — a Tarifa Zero: Araranguá, Forquilinha, Garopaba, Balneário Piçarras, Bombinhas, Governador Celso Ramos, Três Barras e Balneário Camboriú (a maior delas). Em todos esses casos, a Tarifa Zero:
• Aumentou a demanda (número de usuários).
• Democratizou o direito de locomoção, facilitando o acesso à saúde, educação, trabalho, cultura e lazer.
• Fomentou a economia local, com as famílias destinando a economia no transporte a outros gastos.
No Brasil, já são 118 municípios com Tarifa Zero universal. Deixou de ser uma utopia de movimentos de esquerda e tornou-se uma política concreta para enfrentar a crise do sistema de mobilidade urbana.
Meus votos para este Ano Novo são de que possamos ampliar esse debate e que mais prefeituras encarem esse desafio com coragem e inovação.
Mario Dutra é Secretário de Relações Institucionais na Executiva Estadual do PSOL SC e Presidente do PSOL Joinville.