Arquiteto de instituto espanhol que vai fazer projeto em Florianópolis fala sobre desafios urbanos

Willy Müller participou, em Florianópolis, de um painel sobre “Cidades em transformação”
Foto: Peter Nesta, divulgação

Um dos fundadores do Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha, Willy Müller esteve em Florianópolis na semana passada para a formalização de um protocolo de intenções com a Câmara de Florianópolis.

O objetivo é elaborar um projeto urbanístico para Florianópolis com foco na reorganização de loteamentos e bairros, melhoria da infraestrutura, fortalecimento das centralidades, qualificação da mobilidade urbana e aprimoramento dos espaços públicos.

Arquiteto e urbanista, doutor pela Università degli Studi di Genova, Willy nasceu na Argentina mas mora na capital da Catalunha há três décadas. Na Casa Hurbana, onde participou do Painel “Cidades em transformação”, que discutiu o futuro do planejamento urbano, o arquiteto conversou com a coluna.

Quais as primeiras impressões sobre Florianópolis e os principais desafios que consegue enxergar nesse projeto?
Como urbanista, a gente guarda muitas referências de outras cidades. Então, um exercício que a gente faz bem rápido é recorrer a essa memórias. Porque temos um estoque de imagens daqueles lugares que conhecemos a passeio ou a trabalho. Conheço Vitória (ES), por exemplo, que também é uma ilha com ponte como referência. , Em Florianópolis, porém, a escala é muito maior. Em alguns momentos lembrou Hong Kong — guardadas as devidas proporções. Não tive tempo suficiente para compreender todos os desafios, mas vivemos uma época de consciência global sobre os problemas urbanos. Os desafios, aliás, são semelhantes no mundo inteiro: enfrentar as mudanças climáticas, lidar com demandas sociais crescentes por habitação, educação, saúde, mobilidade. Além disso, o espaço público foi dominado pelo automóvel nos últimos 100 anos e estamos tentando recuperar esse espaço.

Florianópolis discutiu o estímulo a novas centralidades durante a revisão do Plano Diretor. Você até usa a expressão “centriferias”. Qual é o conceito?
O modelo tradicional de “nova centralidade”, aplicado em Barcelona há 30 ou 40 anos, funcionou lá — cada área periférica ganhou equipamentos equivalentes, em menor escala, ao centro. Funcionou, mas esse modelo não se aplica a todos os lugares. Daí vem a ideia de “centriferia”: você é centro de algo, mas depende de outro centro para outras coisas. Sem perder, no entanto, a identidade periférica. Criamos esse conceito para descrever relações urbanas mais complexas.

Como tratar sobre o histórico protagonismo dos carros nas cidades?
O Jaime Lerner (arquiteto, ex-prefeito de Curitiba/PR) dizia: “o carro é como o cigarro — temos que começar a deixar”. Obviamente, não conseguimos. Uma ideia que está acontecendo no mundo, e Barcelona é um líder, é a transformação da escala da mobilidade: sai do padrão de quarteirão, entra no “superquarteirão”, liberando vastas áreas do espaço público antes dominado pelo carro. Ao mesmo tempo, novas formas de mobilidade surgem: patinetes, bicicletas elétricas. Não acredito que o ser humano vá abrir mão de estar protegido da chuva, do calor, com ar-condicionado. Além disso, a gente precisa olhar também para a indústria. Entre um capacete de moto e um carro tradicional, algo intermediário vai surgir — e isso mudará faixas, densidades, relações urbanas.

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