Bonito, logo eleito? O corpo, a urna e Tarcísio de dieta

Confesso que estava meio sem ideia para a coluna da semana, mas fui salvo por uma manchete do site Metrópoles: “Candidato em 2026, Tarcísio emagrece mais de 20 kg”.

À coluna de Igor Gadelha, o governador de São Paulo contou que perdeu peso com ajuda de remédios para diabetes tipo 2, usados off label (fora da finalidade da bula) para emagrecimento. Mais um que “Mounjarou”? Ele também mudou hábitos alimentares e passou a se exercitar. Mas faltou uma pergunta importante: o esforço todo é só por saúde ou também por estética e estratégia eleitoral?

Numa eleição, nem todo mundo lê o plano de governo. Mas todo mundo vê a foto do candidato. E se a imagem for magra, sorridente, bronzeada e bem produzida, melhor ainda, certo? A recente perda de peso do provável candidato da direita à Presidência caiu como uma luva na moldura da eleição. Afinal, o corpo também vota.

A relação entre aparência física e desempenho eleitoral não é nova. É ciência. Em 2006, o psicólogo Alexander Todorov, da Universidade de Princeton, mostrou que, ao ver por poucos segundos os rostos de candidatos desconhecidos, eleitores conseguiam prever com 70% de acerto quem venceria uma eleição. Sem ouvir uma palavra ou conhecer quaisquer propostas. Apenas pela aparência.

O estudo virou referência e abriu caminho para outras pesquisas. Em 2011, pesquisadores da Universidade da Califórnia cruzaram dados de campanhas com a atratividade percebida dos candidatos. Conclusão: políticos considerados fisicamente mais atraentes arrecadam mais doações e têm maior chance de vencer. Não se trata apenas da beleza física em si, mas do que ela simboliza: competência, carisma, liderança. A aparência aciona gatilhos mentais.

No Brasil, o fenômeno não é diferente. Em 2020, uma pesquisa da FGV revelou um dado ainda mais desconcertante: prefeitos considerados mais “bonitos” por eleitores apresentaram, em média, piores indicadores de gestão. Arrecadaram menos, entregaram menos políticas públicas e se envolveram mais em escândalos. Ou seja: um rostinho bonito pode até ganhar eleição, mas não garante governo eficiente.

Que a política virou espetáculo, os nobres leitores estão cansados de saber. E no palco da democracia digital, o corpo fala. Não é à toa que Tarcísio emagrece agora, em ritmo de pré-campanha. Assim como o também governador Eduardo Leite não esconde os treinos na academia. Ou como Macron, na França, e Trudeau, no Canadá, cuidam da imagem com precisão quase cirúrgica. A estética virou estratégia.

Num mundo em que as redes sociais disputam atenção (e a atenção define votos) não basta ser, é preciso parecer. Postura, músculos, sorriso, tudo comunica. Isso não significa que o eleitor seja fútil. É que somos humanos, miseravelmente humanos. E os vieses inconscientes moldam nossas percepções. O bonito ainda leva vantagem, mesmo quando o feio é mais competente.

Nos Estados Unidos, candidatos com sobrepeso têm desempenho estatisticamente pior em eleições majoritárias. Em 2023, a revista The Atlantic publicou um ensaio provocador, intitulado Body Politics, sobre como a forma física de Joe Biden e Donald Trump virou parte do debate político. Afinal, quem aparenta vigor inspira mais confiança, mesmo que o programa de governo seja murcho.

Na política brasileira, isso aparece com cada vez mais força. A disputa não é só por ideias, é por estética. Tudo conta ponto: a linguagem do corpo, a roupa certa, o ângulo do vídeo. O político virou influencer e o eleitor, um seguidor.

A pergunta incômoda que fica é: estamos votando em propostas ou em peles lisas e silhuetas afinadas? A democracia exige escolhas racionais, mas o cérebro – esse danadinho – insiste em julgar o livro pela capa.

Enquanto isso, Tarcísio emagrece em nome da saúde e, quem sabe, da eleição. Agora resta saber: será que o botox vem aí também?

Ps: imagem produzida com ajuda da Inteligência Artificial.

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