Nesta edição Brasília: o que o Agro precisa saber, o campo atravessou a primeira semana de novembro com Brasília em modo frenético: juros em 15%, pacotes de leis sobre terras, leite derramado, estradas e crédito rural, e a COP30 lançando um desafio político – manter o Brasil na vitrine climática sem empurrar o produtor para o banco dos réus.
Foi uma semana de “superquarta legislativa”, daquelas em que o Congresso inteiro trabalha e o campo faz as contas. Enquanto o Senado ampliava a isenção do Imposto de Renda e discutia o seguro rural, a Câmara aprovava pacotes de infraestrutura e regularização fundiária. O campo reagiu com a clareza de quem vive na ponta: o juro colhe o que o produtor planta.
Na terça-feira (4), durante o tradicional almoço da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o agro reagiu à escalada da criminalidade rural. A bancada apresentou em Brasília o pacote de segurança no campo — resposta direta à violência que já cruza porteiras e ameaça transformar o interior no novo Rio de Janeiro.
Por Letícia Schlindwein da Agro Agência Catarina — direto de Brasília

Agro em Alerta
• Selic em 15%: crédito estrangulado
O Copom manteve a taxa Selic em 15%, contrariando expectativas de corte. A CNA e a FPA criticaram o peso dos juros sobre o crédito e a produção.
• Reforma fiscal e IR isento até R$ 5 mil
O Senado aprovou o projeto que amplia a faixa de isenção do IR, beneficiando quem ganha até R$ 5 mil. A medida impacta pequenos produtores e cooperados que operam como pessoa física.
• Terra e fronteira: regularização de volta
A ratificação de registros de terras públicas em faixas de fronteira voltou à Câmara, reacendendo o debate sobre segurança fundiária.
• Superquarta ruralista: pacote da FPA
A Câmara aprovou o PL 2317/2024, PEC dos Caminhoneiros (45/2025) e PL 1092/2025. A FPA classificou a votação como vitória do agro produtivo.
• Segurança no campo e crimes ambientais
A FPA articulou a aprovação de projetos que endurecem penas contra o tráfico de animais e pedem medidas urgentes para conter furtos e invasões.
Leite em ebulição — a paciência acabou em Brasília
A audiência pública sobre a crise do leite, realizada na Câmara dos Deputados na segunda-feira (4), carregava a esperança dos produtores catarinenses, mas terminou em frustração e recado duro: a paciência acabou.
O encontro, requerido pelo deputado Valdir Cobalchini (MDB-SC), reuniu representantes da FAESC, Conseleite, OCB, FPA, CNA e de cooperativas de todo o Sul. O clima foi de desabafo. O setor apresentou dados que retratam o colapso da cadeia: o preço pago ao produtor caiu 25% em 12 meses, as importações de leite em pó do Mercosul subiram 38%, e mais de 10 mil propriedades encerraram as atividades desde 2023.
Cobalchini cobrou reação do governo federal:
“O que se viu foi uma audiência para ouvir, não para resolver. O produtor está no limite, e o leite catarinense não pode virar símbolo de abandono.”
Enquanto isso, o setor se prepara para a audiência estadual marcada para o dia 12 de novembro na Alesc, proposta pelo deputado Altair Silva (PP-SC), que deve reunir governo, cooperativas e produtores em busca de respostas — e menos promessas.
STF pausa a Moratória da Soja
O ministro Flávio Dino suspendeu os processos sobre a Moratória da Soja até julgamento no plenário, entre 14 e 25/11.
Santa Catarina na COP30 — quem produz também preserva
O Estado será representado na COP30 pela Frente Parlamentar da COP30, liderada por Mauro de Nadal (MDB). O documento ‘SC na COP30 — Quem produz, também preserva’ defende três pilares:
– Compensação financeira a quem produz e preserva;
– Incentivos fiscais à energia limpa e renovável;
– Recursos aos municípios que mantêm áreas verdes e rios limpos.
O cooperativismo catarinense também ganha vitrine global: quatro cooperativas do Estado estão entre as 48 brasileiras selecionadas pelo Sistema OCB para apresentar cases de sustentabilidade na conferência.
A Embrapa chega à COP com 400 eventos no hub AgriZone e apresenta nove propostas para um agro de baixo carbono.
Mulheres do Agro e crédito social
Em Chapecó, o programa da Credioeste com a Pastoral do Migrante mostrou que educação financeira e crédito solidário são instrumentos de autonomia feminina.
Dallas Summit — negócios e sucessão
O Sistema Faesc/Senar-SC reuniu lideranças em Florianópolis, debatendo sucessão e empreendedorismo.
Abelhas em pauta
Florianópolis sediou o 6º Encontro Catarinense de Meliponicultura Zootécnica (ECAMZOO) e o 2º Simpósio Nacional, mostrando que sustentabilidade e renda podem nascer do mesmo enxame.
Tá Quanto? — Indicadores & Mercado (YTD)
- Ibovespa: 142.870,54 (+19,98%)
- Raiz4: R$ 0,89 (–58,02%)
- Beef3: R$ 6,91 (+40,17%)
- Milho (Cepea): R$ 62,80/saca (–7,13%)
- Soja (Cepea): R$ 128,50/saca (+1,80%)
- Etanol hidratado: R$ 2,48/L (+8,90%)
- Bitcoin: US$ 126.040,00 (+27,45%)
- Ethereum: US$ 4.503,10 (+24,08%)
Fonte: Cepea, BCB, BRAPI, B3
Radar do Agro
• Seguro Rural: Senado cobra ampliação orçamentária do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR).
• Crédito & Selic: produtores aguardam reabertura de linhas do BNDES Rural.
• Infraestrutura Vicinal: governadores do Sul articulam adesão ao novo programa.
O que acompanhar (10 a 14 de novembro)
Segunda (10/11): Câmara discute atualização da Política Nacional de Irrigação, com o objetivo de modernizar o setor, promover o uso eficiente da água e a adoção de tecnologias sustentáveis.
Terça (11/11): Senado debate orçamento do Plano Safra 2025/26, e concentra-se em como tornar o programa mais eficiente e garantir apoio adequado aos produtores rurais.
Quarta (12/11): Alesc realiza audiência sobre a crise do leite, solicitada pelo deputado Altair Silva (PP), na busca pela valorização dos produtores e do leite catarinense.
Quinta (13/11): Ministério de Minas e Energia (MME) apresentou sua minuta final do decreto do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que institui o mercado regulado de carbono no Brasil. .
Sexta (14/11): STF retoma julgamento da Moratória da Soja, que é um acordo voluntário de mercado de 2006 e que proíbe a compra de soja de fazendas desmatadas na Amazônia após julho de 2008. O STF retomou o julgamento para decidir sobre a constitucionalidade da lei de Mato Grosso (12.709/2024), que proíbe incentivos fiscais e terrenos públicos para empresas signatárias do acordo.
Visão da Semana — O agro entre juros e justiça
A semana mostrou o que Brasília é capaz de fazer e de travar. Enquanto o agro produz e exporta, enfrenta juros de dois dígitos, crédito restrito e insegurança jurídica.
Mas também mostrou o vigor catarinense: da Credioeste às abelhas da UFSC, passando pela Faesc e pela Pastoral do Migrante, o agro de SC reafirma que inovação e inclusão são parte da mesma lavoura.
A próxima semana será de definições no STF, no MME e nas comissões rurais – e o campo segue, como sempre, entre o trabalho do plantio e a espera da colheita.





