Brasília: o que o Agro precisa saber (semana de 10 a 15 de novembro)

Nesta edição Brasília: o que o Agro precisa saber, a semana começou com Brasília tentando respirar, mas o agro não teve descanso: o leite dominou a agenda estadual e federal, transformando Santa Catarina no epicentro de um debate que ganhou microfone, microcâmara e indignação. Na Alesc, mais de 700 pessoas, entidades, deputados e produtores lotaram o auditório pedindo mais do que discursos: medidas urgentes.

Enquanto isso, o Congresso travava o PL Antifacção, com direito a quatro versões de relatório, emenda anti-MST e mudança de pauta de última hora. O setor cervejeiro comemorou a projeção de recorde histórico de cevada em 2025, e a COP30 entrou no radar com articulação catarinense por crédito de carbono menos burocrático e financiamento internacional direto ao produtor. A semana encerra com um recado claro: o agro não está só plantando – está cobrando, exigindo e rearrumando o tabuleiro político. A próxima semana promete mais Brasília do que Brasília consegue suportar.

Por Letícia Schlindwein da Agro Agência Catarina — direto de Brasília

Leite fervendo: Santa Catarina puxa o país para o debate

A Audiência Pública do dia 12 na Alesc escancarou o colapso da cadeia leiteira. O setor exige:

  • Freio às importações
  • Preço mínimo
  • Acesso a crédito
  • Proteção à indústria local
  • Medidas federais coordenadas e urgentes

O recado foi uníssono: o produtor está pagando para trabalhar e está perto do limite.

Brasília: genética, CPI e projeto contra leite reconstituído

No Legislativo federal, o tema também avançou:

  • Debate sobre genética leiteira e acesso das pequenas propriedades a embriões;
  • Movimento para instalação da CPI do Leite;
  • Apresentação de projeto proibindo reconstituição de leite importado para consumo.

Governo de SC ativa Câmara Setorial e mira incentivos

A Sape reativou a Câmara Setorial do Leite e revisou ações do programa Leite Bom SC, garantindo crédito subsidiado, incentivos tributários e planejamento de médio prazo. Aquecimento político e técnico – agora falta execução.

Campo + Indústria: a cevada cresce, e o Brasil festeja

  • 516,5 mil toneladas previstas em 2025: o maior volume já registrado;
  • Crescimento impulsionado pelo Sul, cooperativas e maltarias;
  • Ambev reúne 600 produtores no RS e apresenta cultivar 16% mais produtiva.

Ainda dependemos de importação, mas agora dá para dizer que tem cevada brasileira subindo a caneca.

COP30: Mauro de Nadal e os três recados de Santa Catarina

Na COP30, Santa Catarina não foi para bater palma, foi para bater na mesa.

As três propostas levadas pela Frente Parlamentar catarinense:

  1. Fundo internacional direto ao produtor preservador
  2. Isenção tributária para energia limpa
  3. Compensação para municípios com áreas protegidas e abastecimento hídrico

O deputado Mauro de Nadal resumiu o saldo: missão cumprida, agora a fase é cobrar.

PL Antifacção – perto de votar, longe de consenso

A Câmara remarcou a votação para semana que vem após divergências internas no governo e pressão da oposição.

Pontos de atrito:

  • Definição de “facção criminosa”
  • Uso de drones
  • Destinação de bens apreendidos
  • Emenda de Pedro Lupion incluindo invasões rurais dentro do PL

O senador ruralista resume o clima:

“Se é crime organizado, o MST também precisa estar no texto.”

Santa Catarina — institucional e em movimento

SC termina a semana articulada:

  • Faesc, Fetaesc, Ocesc e Sindileite falando a mesma língua;
  • Alesc com Grupo de Trabalho do leite já atuando;
  • Cooperativas e municípios mobilizados no Extremo Oeste;
  • Sebrae reforçando turismo, gestão e empreendedorismo rural.

Tá Quanto? — Indicadores (YTD)

IndicadorValorVariação YTD
Ibovespa141.708,19+19,55%
ABEV3R$ 11,72+5,35%
BEEF3R$ 6,46+35,71%
Milho (Cepea)R$ 62,80/sc–7,13%
Soja (Cepea)R$ 128,50/sc+1,80%
BitcoinUS$ 121.572,69+23,92%
EthereumUS$ 4.365,81+21,10%

Radar do Agro

Segunda-feira (17/11): O Governo de Santa Catarina deve apresentar o cronograma para a implementação efetiva da Câmara Setorial do Leite. A expectativa é definir prazos, responsáveis e entregas – especialmente sobre preço mínimo, crédito e proteção à indústria local. Se houver sinalização concreta, já muda o humor dos produtores.

Terça-feira (18/11): A Câmara dos Deputados vota o PL Antifacção em pauta única. O texto inclui definição legal para facções e novas penas – mas o protagonismo do dia será emenda que inclui invasões rurais (caso MST) no escopo. Se aprovada, muda a dinâmica jurídica das ações no campo e das políticas fundiárias.

Quarta-feira (19/11): A CAPADR – Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural avança no relatório sobre políticas de melhoramento genético bovino, focando acesso à tecnologia para pequenas propriedades. O relatório pode ser o embrião de um novo programa federal estruturante.

Quinta-feira (20/11): O Senado retoma o debate do Plano Safra 2025/26, com foco em orçamento, equalização dos juros e sustentabilidade. Bancadas querem prioridade para crédito rural e irrigação, mas há divergência sobre fontes de financiamento. O agro acompanha porque é ali que se define margem, risco e planejamento acompanha.

Sexta (21/11): O STF segue o julgamento da Moratória da Soja, que proíbe a compra de soja produzida em áreas desmatadas na Amazônia após 2008. A decisão tem impacto direto na rastreabilidade, exportações e compliance ambiental – especialmente para o Sul, que depende de previsibilidade jurídica.

Visão da Semana: o agro dobrou a aposta

O agro não pediu licença nesta semana – exigiu prioridade. SC colocou o leite na vitrine, o Congresso sentiu o peso, o STF voltou ao jogo climático e o PL Antifacção virou um espelho incômodo: quem invade terra tem nome e vai responder perante a lei. E enquanto Brasília debate, o campo produz. Porque para o agro catarinense e brasileiro não existe feriado. Existe propósito.

Os colunistas são responsáveis pelo conteúdo de suas publicações e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Upiara.

Anúncios e chamada para o mailing