Nesta edição Brasília: o que o Agro precisa saber, a última semana cheia do ano em Brasília foi tudo, menos morna. Enquanto o Congresso esvaziava aos poucos com o início do recesso parlamentar, o agro virou protagonista em três frentes decisivas: clima, mercado e Judiciário.

O Planalto jogou luz sobre o licenciamento ambiental e o Plano Clima, transferindo riscos ao setor produtivo; o Supremo Tribunal Federal formou maioria para derrubar o marco temporal, reacendendo a insegurança fundiária; e, no mercado, crises silenciosas — como a da cebola e do leite — mostraram que eficiência produtiva não garante renda.
No campo, o tempo virou montanha-russa: calor extremo, geada fora de hora, chuva em excesso.
Em Brasília, a política acompanhou o ritmo: decisões rápidas, discursos duros e contas empurradas para 2026.
O agro fecha o ano produzindo, pressionado e atento — como sempre.
Por Letícia Schlindwein da Agro Agência Catarina — direto de Brasília
Leite: o efeito dominó das leis estaduais
A semana consolidou um movimento coordenado entre estados produtores para frear a venda de leite fluido feito a partir de leite em pó importado. Goiás sancionou, Santa Catarina aprovou na Alesc, Paraná já opera com lei em vigor e Minas Gerais e Rio Grande do Sul avançam em projetos semelhantes.
O recado é claro: onde a União patinou, os estados entraram em campo para tentar estancar a crise de preços, proteger o produtor e redesenhar o mercado de laticínios.
Plano Clima aprovado, fatura redistribuída
O governo aprovou o Plano Clima 2024–2035, reorganizando a conta das emissões. A agricultura e a pecuária deixaram de carregar o peso do desmatamento fora da porteira, mas seguem sob vigilância.
O setor ganhou previsibilidade no papel, mas encerra o ano esperando o texto final no Diário Oficial — porque no agro, promessa só vale depois de publicada.
Licenciamento ambiental: discurso verde, risco rural
Na inauguração da nova sede da ApexBrasil, o presidente Lula foi direto: se a derrubada dos vetos ao licenciamento gerar problema lá fora, quem perde mercado é o exportador.
A fala escancarou o jogo político: o governo preserva o discurso ambiental internacional enquanto o agro absorve o risco comercial.
Cebola: produtividade recorde, renda em queda
O grande alerta da semana veio do Sul. Santa Catarina, líder nacional da cebolicultura, colhe uma safra farta, tecnológica e sustentável — mas com preços abaixo do custo.
A produtividade cresceu 300% em 50 anos, a cadeia movimenta até R$ 900 milhões por ano, mas o produtor recebe entre R$ 0,80 e R$ 1,00 por quilo, quando precisaria de R$ 2,00 para fechar a conta.
Eficiência não está sendo sinônimo de rentabilidade.
STF derruba marco temporal e reacende insegurança
O Supremo formou maioria para declarar inconstitucional o marco temporal. Cai a data-limite de 1988 e volta a sensação de que o mapa fundiário segue aberto.
A CNA já esperava o desfecho e aposta agora na via política — com uma PEC no Congresso — mas o risco de judicialização permanente entra forte em 2026.
Mercosul: Lula endurece e dá ultimato
Na última reunião ministerial do ano, Lula avisou: se o acordo Mercosul–UE não sair agora, não sai mais neste governo.
Com França e Itália travando o jogo e a UE criando salvaguardas agrícolas internas, o acordo entra em 2026 sob clima de confronto diplomático.
Crédito, logística e máquinas no fechamento do ano
O governo criou uma linha de R$ 6 bilhões para renovação da frota de caminhões, mirando eficiência logística e sustentabilidade.
Na Câmara, avançou o projeto que moderniza as regras de circulação de máquinas agrícolas, corrigindo um vácuo legal histórico nas estradas brasileiras.
Indicadores da Semana
📊 Agro no PIB: segue projetado em torno de 24% do PIB brasileiro, segundo estimativas do setor.
💰 Crédito rural: foco crescente em fundos garantidores e instrumentos privados (Fiagros).
🌾 Produção: grãos seguem robustos, mas cadeias como leite e hortaliças operam no limite da rentabilidade.
🌡️ Clima: extremos climáticos se consolidam como variável permanente, não exceção.
🌍 Comércio exterior: acordos travados, salvaguardas em alta e exigências ambientais cada vez mais duras.
Visão de 2026 | O que fica no horizonte
O Congresso entra em recesso, mas os temas do agro não descansam.
2026 começa com três eixos centrais no radar:
- Segurança jurídica — especialmente após o julgamento do marco temporal;
- Clima e custo — com eventos extremos impactando produção e seguro rural;
- Mercado — acordos travados, salvaguardas e pressão sobre preços internos.
Será um ano de menos discurso e mais disputa por previsibilidade.
Radar do Agro | Mesmo sem plenário, fique atento
- STF: possíveis embargos e desdobramentos do marco temporal
- Executivo: regulamentações do Plano Clima
- Estados: avanço de legislações setoriais (leite, defesa sanitária, crédito)
- Mercado: ajustes de área plantada em cadeias pressionadas
- Política: PECs e pautas estruturantes represadas para o retorno do Congresso
O ano fecha, o agro segue
O ano de 2025 termina com o agro no centro do tabuleiro político, econômico e climático. Produzindo mais, ganhando eficiência, mas convivendo com regras instáveis e margens apertadas. A Política e Agro entra em pausa. O campo, não.
Aos agroamigos que seguraram firme mais um ano de desafios: Feliz Natal e Feliz Ano Novo. Que 2026 venha com colheitas eficientes, preços mais justos, clima menos imprevisível e políticas públicas que enxerguem quem sustenta esse país de pé.
Nos vemos em janeiro!




