Nesta edição Brasília: o que o Agro precisa saber, se Brasília já estava tensa com tarifa, clima e tabaco, os últimos dias provaram que ainda cabia mais. A semana trouxe:
- COP11 com fumaça real e fumaça política
- COP30 em chamas – literalmente, com manchetes internacionais expondo falhas
- STF e Congresso divididos entre taxar ou modernizar o debate sobre defensivos agrícolas
- Tilápia importada irritando estados produtores
- Javali virando disputa federativa
- Tarifas americanas caindo… mas deixando Santa Catarina fora da lista do alívio
- E a ciência catarinense colocando a pecuária tropical no centro da pauta climática.
No campo e no Congresso, novembro está terminando com o recado nítido:
O agro espera diálogo — mas desta vez, exige coerência.
Por Letícia Schlindwein da Agro Agência Catarina — direto de Brasília

COP11 – discurso antitabaco × fila para fumar
Delegações deixando o auditório para fumar enquanto debatem proibição de filtro virou símbolo da semana. A nota da CONICQ tentou conter ruído diplomático, afirmando que o projeto não era brasileiro. Santa Catarina reagiu tecnicamente, com a fala assertiva de Celles Regina de Mattos, presidente da CIDASC:
“O Brasil não pode ser o boi de piranha.”
Agrotóxicos X defensivos: mudança semântica ou ajuste técnico?
A Comissão de Agricultura da Câmara aprovou o projeto que troca o termo agrotóxico por defensivo agrícola, alinhando o país ao padrão internacional (GHS — Sistema Globalmente Harmonizado).
Enquanto o Congresso mudava palavras, o que realmente preocupa está no STF: o julgamento que pode acabar com isenções fiscais para agroquímicos.
Se o imposto mudar, o custo explode — e isso afeta arroz, soja, milho, leite, hortifrutis e a cesta do supermercado.
Santa Catarina reagiu politicamente: o PLP 54/25, da deputada Daniela Reinehr (PL-SC), prevê redução tributária para insumos essenciais.
No agro, a palavra da semana foi previsibilidade.
E a frase mais compartilhada foi a do artigo de Ivan Ramos, da FECOAGRO:
“O campo não vive de manchete ideológica.”
Tilápia: Brasília abre debate, Santa Catarina trava resistência
Com sinalização do governo federal para possível importação da tilápia vietnamita, Santa Catarina mobilizou:
- senadores,
- secretarias estaduais,
- entidades do setor,
- e cooperativas.
O tema volta à mesa nesta próxima semana com pressão crescente.
Javali – STF reacende disputa sobre quem manda
Estados querem autonomia para controle da espécie invasora.
O Congresso já prepara texto garantindo competência estadual plena.
A bancada da segurança pública apoia.
A bancada ambiental pressiona por limites.
A novela está só começando.
Campo + Indústria + Mercado
EUA derrubam tarifa, mas não para SC
A retirada da sobretaxa americana beneficiou carnes, frutas e café — mas deixou de fora os principais produtos exportados por Santa Catarina, como:
- madeira,
- máquinas,
- motores e
- equipamentos industriais.
Santa Catarina ficou literalmente fora da lista VIP.
COP30: O incêndio que expôs mais que fiação elétrica
O fogo no pavilhão oficial virou símbolo:
- da pressa,
- da falta de estrutura,
- e da inconsistência entre discurso e execução.
Enquanto isso, o único espaço que funcionou sem caos foi a AgriZone – organizada por CNA, Embrapa e setor privado.
Plano Clima — desmatamento sai da conta do agro
Depois de forte pressão técnica e política, o governo aceitou criar plano específico para emissões ligadas ao desmatamento.
O agro comemora: menos culpa genérica, mais cálculo real.
Ciência & Tecnologia – Santa Catarina entrega dados, não slogans
A Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SC) marcou a semana no clima e nos mercados.
🔹 Pecuária ConSCiente Carbono Zero comprovou que a pecuária catarinense:
- emite menos metano,
- reduz óxido nitroso,
- sequestra carbono em pastagens bem manejadas,
- e pode chegar à neutralidade já em 2026.
🔹 Boletim Agropecuário Epagri/Cepa apontou:
- cebola com safra recorde e zero importação nacional,
- soja com área reduzindo pela primeira vez em anos,
- arroz afetado por preço e clima,
- preço da maçã reagindo com safra otimista,
- milho voltando a ganhar fôlego,
- alhos com preço subindo no produtor, mas caindo no atacado.
🔹 Bioinsumo catarinense contra o percevejo do arroz avança em testes.
🔹 FECOAGRO + ILSA lançam fertilizantes BIO+.
Santa Catarina não comenta o clima, entrega pesquisa aplicada.
Santa Catarina – institucional e alinhada
O estado segue com:
- produtores organizados,
- cooperativismo forte,
- políticas estaduais articuladas,
- e protagonismo técnico no discurso climático.
Radar do Agro – O que acompanhar?
Segunda — 24/11: Reações pós-COP11 e COP30 devem começar a aparecer oficialmente – principalmente notas técnicas, posicionamentos de entidades e possível revisão narrativa do governo após repercussão internacional negativa do incêndio em Belém e das contradições observadas na COP do Tabaco. É o dia em que Brasília tenta reorganizar discurso antes que o Congresso e setores produtivos ocupem o vácuo.
Terça — 25/11: O Senado pode retomar a votação do PL Antifacção. Integrantes do Palácio do Planalto avaliam que a escolha de Alessandro Vieira (MDB-SE) como relator do PL Antifacção no Senado foi mais “equilibrada” para o governo do que a de Guilherme Derrite (PL-SP) na Câmara dos Deputados.
Quarta — 26/11: O debate técnico sobre o Plano Clima segue no Senado e nos ministérios estratégicos. Expectativa é de avanço em duas frentes: metodologia de medição de emissões no agro tropical (pressão do setor) e desenho do plano exclusivo para desmatamento — retirado oficialmente da conta da agropecuária. Santa Catarina acompanhará de perto, pois o tratamento diferenciado para sistemas tropicais é bandeira catarinense na COP30.
Quinta — 27/11: O governo deve dar novo passo na análise da importação de tilápia do Vietnã. Entidades catarinenses articulam presença física em agendas técnicas e políticas, porque o tema ganhou dimensão nacional e simbólica: competitividade, soberania sanitária e política de estímulo versus dependência. A depender do rito, o tema pode migrar para audiências públicas no Senado antes de deliberação final.
Sexta — 28/11: O STF pode retomar dois julgamentos sensíveis ao setor: isenção fiscal para agroquímicos e a chamada Moratória da Soja. No caso dos defensivos, o impacto é direto na planilha do produtor — principalmente arroz, milho, soja e leite. No caso da moratória, a decisão influencia compliance ambiental, exportações e rastreabilidade. É o dia em que o agro observa jurisprudência — não discurso.
Visão da Semana – o agro não tem tempo para contradições
Se a COP11 discutiu cigarro enquanto produzia fumaça e a COP30 debateu clima enquanto o pavilhão pegava fogo, o agro fez o contrário:
Falou pouco, mostrou muito. Apresentou dados, e exigiu método.
O mundo performa agenda climática. O agro entrega agenda técnica.
Santa Catarina, novamente, ficou no lado certo: o da produção com ciência, coerência e resultado.





