Café, cerveja ou vinho? Conteúdo e método nas eleições de Santa Catarina em 2026. Por Lucas Almeida

Lucas Almeida escreve artigo sobre o cenário político em Santa Catarina, focando no crescimento do PL e no impacto da “onda bolsonarista” nas eleições. Ele também questiona como partidos tradicionais, como MDB, PSD e PP, planejam reagir à ascensão conservadora, considerando novos métodos e alianças possíveis para as eleições de 2026.

Quase todo mundo que trabalha com política toma café, cerveja ou vinho. Minha teoria é que essas são as bebidas mais propícias para se fazer política. Além disso, no período pré e pós-eleitoral, elas são frequentemente escolhidas para refletir sobre o óbvio, o que parece óbvio e o que, apesar de não ser tão evidente, acabou se concretizando.

Dentro dessas reflexões, especialmente em Santa Catarina, surge sempre a pergunta sobre o quanto a “onda bolsonarista” ainda está presente nas eleições, se as disputas regionais serão ou não verticalizadas com pautas nacionais e qual a influência de Jair Bolsonaro como cabo eleitoral para candidaturas ao Executivo e ao Legislativo.

O que se percebe após quatro eleições (2018, 2020, 2022 e 2024) é que Santa Catarina é um estado majoritariamente conservador. Os políticos mais experientes desse espectro (ou que passaram a integrá-lo, seja por conveniência, sobrevivência ou convicção) aprenderam a usar o número 22 como estandarte em suas campanhas — uma maneira de sinalizar alinhamento com os valores da extrema-direita brasileira e com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Essa análise de recorte temporal é pacificada para quem discute política nos cafés, bares ou vinícolas. Em 2018, Santa Catarina elegeu um oficial dos bombeiros desconhecido votando no número 17. Em 2020, o estado elegeu 13 prefeitos pelo PSL, levando muitos a acreditar que a onda de 2018 tinha se transformado em “uma marolinha”. Porém, em 2022, no contexto da eleição presidencial mais disputada desde a redemocratização, entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL), a marolinha virou um tsunami sob a legenda do Partido Liberal. O estado elegeu Jorginho Mello como governador e Jorge Seif, um desconhecido à época, como senador. Além disso, o PL conquistou 27,5% das cadeiras na Assembleia Legislativa (11 de 40), formando a maior bancada, e garantiu 37,5% das cadeiras de Santa Catarina na Câmara dos Deputados (6 de 16).

Em 2024, com a força conquistada em 2022 e uma legenda sólida, o PL, sob a liderança de políticos experientes, conquistou 90 prefeituras, ultrapassando o MDB, que historicamente ocupava o posto de partido com maior número de prefeituras no estado.

Após esse retrospecto, algumas perguntas surgem: O que farão os partidos ou grupos políticos que historicamente comandam Santa Catarina — aglutinados no MDB, PSD e PP? Que tipo de campanha adotarão? Serão aliados do PL até que a onda passe? E se a onda não passar? Como farão oposição ao PL se não estão dispostos a confrontar o projeto político que o partido defende?

Na minha avaliação, há poucas maneiras de enfrentar esse cenário. Atualmente, a arena do debate público tem dois pontos cruciais: o conteúdo e o método. O conteúdo é a cartilha conservadora, o antipetismo, o crescimento de Santa Catarina, o que o governo deseja pautar e, ocasionalmente, algo fora desse ciclo. O método, por sua vez, aparentemente permanece o mesmo: reflete-se sobre a eleição anterior, analisam-se os nomes aptos para formar nominatas em 2026, avaliam-se as campanhas, o financiamento, os cabos eleitorais (que estão mais inflacionados do que nunca), e assim por diante.

Nesse contexto, voltamos ao início deste texto. O que é óbvio é que há legendas se movimentando para frear o crescimento do PL no estado. O que parece óbvio é que os partidos têm medo de se opor à agenda defendida pelo PL, tanto pelo fato de Santa Catarina ser um estado conservador quanto, talvez, por eles mesmos compartilharem ideias semelhantes — embora, em alguns casos, menos radicais. O que não me parece evidente, e que seria uma grande surpresa, seria uma mudança no método de construção das candidaturas dentro dos partidos tradicionais.

Quanto à possibilidade de mudar o método, ainda há tempo de aprender com exemplos como Pablo Marçal, Joyce Trindade, Monica Duarte, Giovana Mondardo, Bruno Ganem e tantos outros que fogem da lógica tradicional de fazer política e construir campanhas. O modelo tradicional de fazer campanha está se tornando cada vez mais caro, com menor impacto e perdendo espaço gradualmente. Parte disso ocorre porque a extrema-direita ocupou esse espaço, e outra parte porque muitos ainda não entenderam que as novas formas de fazer política podem ser adotadas por todos.


Lucas Almeida é estrategista político e especilista em mobilização digital, sócio da Dual Consultoria Política.

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