Por Vilmar Dal Bó

Em 2024 a Campanha da Fraternidade completa 60 anos e tem o tema Fraternidade e Amizade Social e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mateus 23,8).

O tema da campanha foi inspirado na Carta Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti (Todos Irmãos), sobre a fraternidade e a amizade social publicada em 3 de outubro de 2020, quando a comunidade global vivia o drama da pandemia de COVID-19.

Em síntese, a Campanha da Fraternidade tem por objetivo despertar o valor universal da fraternidade humana – vós sois todos irmãos e irmãs – e refletir os vínculos sociais que decorrem da amizade social.

O conceito de amizade não passou despercebido pela filosofia clássica grega. Homero, Platão e Aristóteles viram a importância de refletir sobre a amizade como vínculo de relações, afeição e reciprocidade. No período escolástico, São Tomás de Aquino destacou a amizade como uma virtude política, e com isso, necessária para o bem viver na sociedade. A amizade, assim, assume um conteúdo sociopolítico e cultural.  

Neste horizonte, o Papa Francisco reflete a amizade social como um vínculo de relação fraterna aberto para todos, para além de qualquer limite geográfico, étnico, confessional e moral. Evidência a importância de um pacto social e cultural que respeite e assuma as diversas visões de mundo, as culturas e os estilos de vida que coexistem na sociedade, defendendo, pois, a ideia de projetar uma cultura que privilegie o diálogo como forma de encontro. E que os atores sociais diante dos conflitos e das realidades fragmentadas não desistam do diálogo e do esforço para desenvolver uma comunhão nas diferenças.

Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – A alegria do Evangelho -, publicada em 24 de novembro de 2013, o Papa Francisco afirma que amizade social é o esforço para fazer com que a unidade prevaleça sobre o conflito (n.228).

Em tempos de uma sociedade polarizada (famílias, comunidades e instituições) e um tanto quanto alheia ao diálogo, refletir sobre a amizade social consiste no esforço individual, mas também comunitário para construir uma verdadeira paz social. E, assim, recuperar a amabilidade e o respeito diante das diferentes visões de mudo e superar a intolerância fundamentalista, os fanatismos, as lógicas fechadas e a fragmentação social. Desenvolver uma cultura do encontro que nos conduza a superar as inimizades e a cuidar uns dos outros. Um verdadeiro desafio quaresmal. 

Vilmar Dal Bó é doutor em Ciências Econômicas e Políticas, com linha de Pesquisa na Teoria do Cuidado.