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7 de setembro de 2024

Caos na realidade e na inteligência: e os intelectuais?

No ambiente inóspito da regressão social, sofremos todos com um certo embaçamento do campo visual. Psiquiatras e filósofos estudam a relativa paralisia afetivo-cognitiva causada pelo medo e pela insegurança crescentes. Freud analisou essa condição em situações de traumas pós-guerras.

Essa condição adversa de “caos” situa-se na desordem geral globalizada e atinge o pensamento. Nesse sentido o caos das ideias produz e reproduz o caos social, num movimento de reciprocidade, com consequências não planejadas, reversas, não raro perversas.

Os intelectuais podem e devem ter sua organicidade ou compromissos políticos, mas o embaralhamento de mudanças díspares implicam num embotamento na percepção das mutações em curso, dificultando o trabalho de distinguir o que é real e falso na polarização atual.

Nesse sentido, muito biruta tende à repetição quase catatônica e forçada de grandes teorias e autores com dificuldades ou impotentes para dar conta da complexidade do nosso mundo fragmentado na realidade é nas ideias.

Daí o hiato entre vanguardas que se autorepresentam como progressistas e ações que sensibilizem pessoas a participar de movimentos sociais. Eis o terreno/vazio preenchido, em contextos de crise, pela ultradireita. Ela é a novidade. Ela faz movimento social. Ela se comunica com os sobressaltados, desesperançosos. A esquerda apequenou-se nós corredores burocráticos do Estado. Tornou-se poder e enquanto tal ensaia um repente um acordo com os poderosos, espécie de transformismo minimalista.

A questão que se coloca para uma crítica consequente, não paroquial e não obnubilada por mantras de ortodoxia, é como construir uma crítica não colonizada? Um certo liberalismo político romantizado apodreceu e produziu a falência da democracia moderna. Um certo marxismo cientificamente escatológico contaminou as lutas libertário-emancipatórias, empurrando-as para o seu avesso.

Então, qual o papel do intelectual para o progresso transformativo, efetivo?

Intelectuais devem ser capazes de acreditar e avançar em verdadeiras autocríticas, necessárias, fora daquelas cheias de voluntarismo (“subjetivismo dialético”) e certezas peremptórias, com receitas de bolo para redefinir a luta de classes. Uma crítica crítica profícua nos impediria de sermos reféns desse cubanisno obsoleto e cleptocorporativo.

Essa safra humana que amplia a esquerda de direita (reformista a e “revolucionária) não sabe o que está produzindo na ponta da cadeia de despolitização: um culto à personalidade exatamente rival àquele que diz combater, negacionista e idólatra.

Os colunistas são responsáveis pelo conteúdo de suas publicações e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Upiara.

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