O turista que foi barrado na Casa d’Agronômica 18 anos antes de virar governador

Casildo Maldaner, que nos deixou em 17 de maio de 2021, protagonizou grandes histórias engraçadas na política catarinenses. Tantas foram que renderam duas edições do livro Casildário, escritos pelo seu amigo Dorvalino Furtado Filho.

Militou na política desde 1963, quando aos 20 anos foi eleito vereador no município de Modelo, fazendo campanha eleitoral no lombo de um cavalo, como gostava de lembrar. Quase dez anos depois dessa eleição, em 1972, ele passou por uma situação que, analisando anos depois, ficou marcada na sua memória como uma premonição.

Neste ano, ele e Dona Ivone se casaram e vieram a Florianópolis, em lua de mel. Casildo empreendeu a viagem dirigindo uma Rural Wyllis, de Linha Salete até Florianópolis. O trajeto era feito pela BR-470, passando por Rio do Sul, Blumenau e Itajaí. Com algumas paradas, demoraram dois dias para chegar na Capital.

Em Florianópolis, o casal pretendia visitar a Lagoa da Conceição, pois receberam informações de que era um lugar muito bonito. Na época a avenida Beira-Mar Norte não existia e o trajeto, do Centro até a Lagoa, passava em frente ao portão principal da Casa d’Agronômica, na rua Rui Barbosa.

Inaugurada em 1955, pelo então governador Irineu Bornhausen, a Casa d’Agronômica (que até os anos 2000 era chamada de Palácio da Agronômica) ainda é um dos belos cartões postais da Capital Catarinense. Imagine isso há praticamente 60 anos.

Quando passaram em frente aos jardins, Casildo e Ivone decididram tirar uma foto naquele lugar tão bonito. Ele então estacionou a Rural e educadamente, com seu jeito espontâneo de oestino, pediu a um dos guardas que faziam segurança no portão para que batesse uma foto do casal, com a Kodak que carregava consigo.

  • Não posso deixar vocês entrarem aqui para tirar foto. O senhor não sabe que aqui mora o governador Colombo Sales? – indagou um guarda, com cara de poucos amigos.


Casildo tentou argumentar com o policial que apenas queria atravessar a corrente que impedia a entrada no jardim e que de forma alguma iria incomodar o governador, mas não teve sucesso.

  • Sem permissão. É melhor se retirarem – teria dito o guarda, encerrando o assunto.


Casildo e Dona Ivone, mesmo contrariados, embarcaram na Rural e seguiram para conhecer as belezas da Lagoa da Conceição.

Dois anos depois desse episódio, em 1974, Casildo foi eleito deputado estadual. Foi reeleito em 1978. Em 1982 se elegeu deputado federal e em 1986 foi eleito vice-governador, na chapa liderada por Pedro Ivo Campos, do PMDB.

Como o mundo da as suas voltas, em 27 de fevereiro de 1990, durante o carnaval, o governador Pedro Ivo Campos, que já estava doente há algum tempo, faleceu e Casildo Maldaner virou governador de Santa Catarina.

Pouco mais de 18 anos depois de ser proibido de tirar apenas algumas fotografias no jardim da Casa d’Agronômica, Casildo e Dona Ivone chegaram como moradores, onde ficaram até março de 1991, quando foram substituídos pelo casal Vilson e Vera Kleinubing.

Depois disso, Casildo foi senador por duas vezes. Foi eleito em 1994, junto com Vilson Kleinubing (PFL). Nessa mesma eleição, Paulo Afonso (PMDB) foi eleito governador. Em 2006, quando o governador Luiz Henrique (PMDB) construiu a Tríplice Aliança (PMDB, PFL e PSDB), Casildo foi o primeiro suplente de Raimundo Colombo (PFL). Com a eleição de Colombo ao Governo, em 2010, completou o mandato no Senado, até 2014.



Ilustração – Galvão Bertazzi interpreta o dia em que Casildo Maldaner foi barrado no palácio em que seria morador 18 anos depois.

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