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8 de setembro de 2024

Por que tantas mortes por dengue em Joinville? Por Cassiano Ucker

Médico e vereador em Joinville, Cassiano Ucker (União) analisa os motivos que fizeram de Joinville recordista em mortes por dengue

Por Cassiano Ucker

Como médico que atende pelo SUS e vereador, mas sobretudo como cidadão, eu me pergunto: por que Joinville foi a cidade com mais mortes por dengue no Brasil em 2023, e por que é forte candidata a bater seu próprio recorde em 2024? Quais os erros, quais os acertos?

O Brasil registrou 1.079 mortes por dengue de 1º de janeiro de 2023 a 27 de dezembro de 2023, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Destas, 39 mortes (3,5% de todas as registradas no país) se concentraram em uma única cidade, Joinville, a recordista no país.

Considerando o número de municípios (5.568), essa concentração é alarmante. Em 2024, em Joinville, já são 14 mortes confirmadas até o dia 22 de março, conforme o Painel da Dengue da Prefeitura, quase metade das mortes em todo o Estado de Santa Catarina (32, dado da DIVE).

É preciso lembrar que em 2023 a primeira morte foi registrada apenas em março, e que o cenário epidemiológico este ano é muito mais preocupante. Se seguirmos nesse ritmo, o cenário de 2024 será ainda mais caótico que o ano anterior. Observando os dados até a semana epidemiológica 9, tivemos um aumento de 675% de casos confirmados em relação ao mesmo período de 2023.

A pergunta crucial é: o que não foi feito e o que poderia ser feito daqui em diante?

Deixo aqui minha percepção e algumas sugestões. Poderíamos ter seguido o exemplo de outras cidades como Blumenau, que registrou apenas um óbito em 2024, e que apostou num trabalho contínuo, o ano todo, de conscientização e de realização do fumacê (realizado em parceria com o Governo do Estado e agora estão adquirindo também equipamento próprio), por exemplo.

Mas, do jeito que tem que ser, com periodicidade e aviso aos moradores, passando as orientações necessárias para ele ser mais eficiente. Inclusive, criaram lives, duas vezes por semana, às 19 horas, para os moradores acompanharem informações sobre a dengue.

Aqui em Joinville, pelo relato dos munícipes, o fumacê passa sem aviso prévio, o que é em parte um risco, e em outro desperdício de recurso público, porque não é aproveitado o máximo da sua eficácia. Além disso, o Executivo demorou para contratar mais agentes de endemia, faltou planejamento para aumentar a capacidade de atendimento, faltou divulgação e orientação sobre fluxos de atendimento para os munícipes e faltou planejamento para a criação de uma Central de Hidratação em uma estrutura extra, melhor localizada.

Para não falar apenas dos erros, vamos aos acertos: campanha de conscientização nas ruas, mesmo que já no auge da crise de saúde pública que se instaurou e levou ao decreto de emergência.

Outro acerto foi a aposta no método Wolbachia, que consiste em inserir essa bactéria em ovos do mosquito, em laboratório, e, assim, criar Aedes aegypti que portam o microrganismo e não transmitem a dengue. Porém, só teremos a liberação dos ‘Wolbitos’ em julho deste ano, para colher os resultados em seis meses. Até lá, quantas mortes de familiares e amigos joinvilenses ainda vão chorar?

Não adianta culpar o clima, o mosquito, a população, as comorbidades das vítimas, a burocracia. Quando as condições não são favoráveis, e vidas estão em risco, é dever do poder público buscar todas as alternativas possíveis, e priorizar a saúde.

É questão de responsabilidade e sensibilidade.



Cassiano Ucker (União Brasil) é médico e vereador em Joinville.

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