Afrânio Boppré escreve artigo em que defende a adoção do conceito de “cidade-esponja” em Florianópolis para melhorar a gestão das águas, mitigando enchentes e promovendo o reuso da água da chuva, em resposta às mudanças climáticas.
Com o agravamento das mudanças climáticas, há necessidade de revisão completa do modelo de gestão das águas por parte principalmente das administrações municipais. Vivemos uma crise causada, em grande medida, pela interferência avassaladora do homem em sua relação com a natureza.
Uma alternativa, aplicada em várias cidades pelo mundo, incluindo na China, Europa e Estados Unidos, é o conceito de “cidade-esponja”, desenvolvido pelo arquiteto chinês Kongjian Yu. A proposta do decano da faculdade de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim é que a humanidade pare imediatamente de “lutar contra a água” e que os gestores públicos invistam em soluções duradouras e baseadas na harmonia com a natureza.
Na condição de vereador, apresentei, na Câmara Municipal, um Projeto de Lei para que Florianópolis adote este conceito. Considero fundamental que a nossa Cidade implemente políticas públicas no sentido de mitigar riscos de enchentes, alagamentos e promover o reuso da água da chuva.
Nosso intuito é que o poder público faça a gestão de águas inundáveis, fortaleça a infraestrutura ecológica e o uso de sistemas de drenagem que busque absorver, capturar, armazenar, filtrar e aproveitar a água pluvial, reduzindo impactos indesejáveis. Além disso, garantir maior autossuficiência hídrica, melhorar a qualidade da água disponível e reduzir a sobrecarga do sistema de drenagem.
A ideia da “cidade-esponja” consiste em incorporar infraestruturas verdes para ajudar na absorção da água, como parques, hortas, vegetação ao redor de rios, telhados verdes, jardins de chuva, valas de infiltração, bueiros ecológicos, além de promover a substituição do concreto, que é impermeável, por um tipo de material que permita a passagem da água aos lençóis freáticos. Na prática, o conceito “cidade-esponja” não se limita apenas a uma ação ou projeto, mas um conjunto de estratégias que deixam a cidade mais “esponjosa”.
Enquanto a gestão convencional das águas pluviais busca, por meio de drenos e tubulações, simplesmente transportar a água da chuva para rios e mares, a “cidade-esponja” busca absorver a chuva e diminuir o escoamento superficial. A água absorvida pode ser armazenada, limpa e reutilizada.
Segundo o pai da ideia, Kongjian Yu, em entrevista recente à BBC News Brasil, há uma escolha muito clara a ser feita: investir em grandes barragens de cimento, diques e tubulações impermeáveis, que, nas palavras dele, estão fadados a fracassar, ou apostar em algo que é duradouro, sustentável e ainda bonito e produtivo. Para Yu, a primeira opção já se mostrou incapaz de acompanhar os efeitos das mudanças climáticas, já que as chuvas são cada vez mais intensas e o nível da água de rios e mares não para de subir.
Em resumo, a gestão das cidades exige novos paradigmas. Zelar pela água é mais qualidade de vida.
Afrânio Tadeu Boppré é doutor em geografia urbana, economista, professor e vereador do PSOL em Florianópolis.