Coerência é feminina: por um STF com mais mulheres. Por Filipe Schmitz

Artigo de Filipe Schmitz, advogado e ex-vice-prefeito (MDB) de Antônio Carlos/SC

O presidente Lula tem nas mãos a oportunidade de mostrar que o discurso sobre igualdade e inclusão não é apenas uma bandeira de conveniência. Ao longo de três mandatos, o petista indicou apenas uma mulher ao Supremo Tribunal Federal. É pouco — muito pouco — para quem se apresenta como defensor das pautas de gênero e da presença feminina nos espaços de poder.

Desde a criação do Supremo, há 134 anos, apenas três mulheres ocuparam uma cadeira na Corte: Ellen Gracie, nomeada por Fernando Henrique Cardoso em 2000; Cármen Lúcia, indicada pelo próprio Lula em 2006; e Rosa Weber, escolhida por Dilma Rousseff em 2011. Três nomes em toda a história de um tribunal que já teve mais de 170 ministros.

A nova vaga oferece, portanto, a chance de corrigir uma distorção histórica. Em um país onde as mulheres são maioria da população, mas minoria nas posições de comando, manter o Supremo com apenas uma representante feminina é um retrato que já não condiz com o Brasil real.

O problema não está na falta de nomes. Há juristas, magistradas e procuradoras altamente qualificadas, com trajetória sólida e respeito nacional. O que falta, muitas vezes, é vontade política para romper com padrões antigos — aqueles em que os critérios de poder continuam restritos a círculos masculinos.

Chama atenção, também, o silêncio de muitas lideranças femininas eleitas, inclusive das que integram ou apoiam o governo. Quando o tema é a presença das mulheres em cargos de ponta, o tom costuma baixar. É como se a pauta da igualdade tivesse validade apenas quando dirigida ao adversário político.

Nomear uma mulher para o Supremo não é um gesto simbólico, é um ato de coerência. Coerência com o que se diz nas campanhas, nos palanques e nas solenidades. Lula, que tanto fala sobre inclusão e diversidade, pode demonstrar agora que compreende o valor político de um gesto concreto. E mais que isso: que entende que o
Brasil precisa de um Supremo que reflita a sua sociedade — diversa e plural.

O país precisa de exemplos. E, neste caso, em alto e bom tom: coerência tem nome feminino.

COMPARTILHE
Facebook
Twitter
LinkedIn
Reddit