“Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” (Cora Coralina)
15 de outubro é comemorado como Dia do Professor. E, por isso, unicamente por isso, não há aula nas escolas. Nem nas particulares, nem nas públicas. Há décadas é desse jeito. Para alegria dos alunos e dos próprios professores. Ambos ganham uma folga.
Mas é isso mesmo que deveríamos festejar? A ausência de aulas neste dia?
Para além de velhos clichês (“o professor é um herói”; “o professor deveria ter uma remuneração bem melhor”), e que são verdades incontestáveis neste nosso país desigual, vamos refletir um pouco.
Onde estudam os professores?
O Censo nos diz: 67% das matrículas de cursos de Licenciatura (aqueles que formam novos professores) são em cursos de EAD, portanto, com aulas não presenciais.
A opção por cursos no modelo EAD é, na maioria absoluta, a escolha feita por quem tem renda menor; por quem precisa trabalhar o dia todo e se diz cansado; por mulheres (64%) e por quem está na classe C (54%); egressos do ensino público (86%).
Outros dados são esclarecedores em relação ao efetivo aprendizado. Nos cursos superiores a distância, cada professor atende 171 alunos, em média. Nos cursos presenciais, a média é de 22 alunos para cada professor.
Há cursos no formato EAD com mensalidade de R$ 129,00. Qual é o rendimento escolar neste modelo?
As informações, oficiais, do Ministério da Educação, são autoexplicativas. Certamente não é necessário desenhar para compreender a realidade sobre a qualidade desse ensino.
Não é por acaso que o MEC suspendeu, neste ano, a criação de novos cursos EAD no país.
Afinal, de nada adianta ter milhões de pessoas com curso superior completo se grande parte delas não sabe raciocinar o básico.
A crise da educação refletida no IDEB
Os resultados das provas do IDEB retratam a situação. Em Santa Catarina, estado que tanto se ufana da excelência de sua mão de obra, a nota média dos alunos do ensino médio é de 4,2.
Explicando melhor: na média, o aluno de ensino médio, em Santa Catarina, deveria ser… reprovado. Porque não aprendeu o minimamente suficiente para evoluir.
Há pelo menos 15 anos, a grande preocupação dos empresários é com a formação de trabalhadores em face da globalização, que impõe rupturas na forma de lidar com novas tecnologias indispensáveis nas indústrias.
Desconexão entre escola e mercado de trabalho
A desconexão entre novas tecnologias e máquinas, e robôs nas diferentes áreas da indústria e o aprendizado nas escolas, acendeu o sinal vermelho. Ao ponto de a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina ter feito, há alguns anos, intensa campanha sobre a importância da Educação como fator de desenvolvimento e competitividade.
O cotidiano mostra o enorme distanciamento entre as necessidades das empresas e a capacidade/interesse por entregas dos trabalhadores.
Atualmente, diante da pressão global por eficiência e competitividade, o foco da Educação deixou de ser o aprendizado para uma cultura geral. Isso não interessa mais, para desespero de quem acredita que o pensamento crítico auxilia na (re)criação de uma sociedade melhor.
Hoje, nas escolas mais bem aparelhadas, o foco é no ensino voltado para uma sigla: STEAM. Que, na prática, quer dizer foco nas áreas de Engenharia, Tecnologia, Ciências e Artes.
O objetivo é, tanto quanto possível, desenvolver o senso prático e o pensamento lógico nas crianças e adolescentes.
O futuro do aprendizado
Mas, a velocidade das transformações sociais é tão grande que outras técnicas e habilidades já precisam ser incorporadas. Quais? É fácil perceber: o ensino (ou melhor, o aprendizado) de Educação Financeira, de Inteligência Emocional, de Robótica e Programação, de Inglês e Mandarim fluentes já fazem parte da lista de disciplinas requeridas. Se não hoje, o serão muito em breve.
Um estudo da OCDE, feito em 2023, indica algo a respeito. Jovens de 16 a 24 anos de vários países foram perguntados: – Você aprendeu Programação?
As respostas: (em percentual)
- União Europeia: 18%
- Espanha: 23%
- França: 25%
- Suíça: 27%
- Noruega: 28%
- Portugal: 34%
Não constam do estudo Alemanha, Estados Unidos, China, Japão, Coreia do Sul. Mas o Brasil aparece na pesquisa: 6%!
A desconexão com as ciências humanas
Dito isso tudo, restam muitas questões sem respostas.
O mais intrigante é: se o jovem brasileiro não aprende o que o “mercado” exige, o que dizer sobre o desprezo contemporâneo para com assuntos como História, Geografia, Filosofia?
Ensinamentos estes, da área de Humanas, que ajudam a pensar, a formatar uma mente pronta para compreender as situações – não apenas a fazer contas.
Mas quem disse que alunos e professores querem pensar, quando o que sobra é tentar sobreviver?