Com Ponticelli e Caio réus e nova leva de prisões, Operação Mensageiro fecha um ciclo e abre outro

Se fosse uma série de grande audiência em uma plataforma de streaming, a Operação Mensageiro teria feito uma inovação: o último episódio da primeira temporada saiu no mesmo dia do lançamento da segunda. A quinta-feira, dia 27 de abril, já estava marcada no calendário de todos os que acompanham atentamente a suposta rede de corrupção envolvendo prefeituras catarinenses e a empresa Serrana em contratos de coleta de lixo, que vem coletando prefeitos para prisões preventivas desde o final do ano passado.

Estava prevista para ontem a decisão da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça (TJ-SC) sobre o prefeito Joares Ponticelli (Progressistas) e seu vice, Caio Tokarski (União Brasil), ambos presos desde 14 de fevereiro. O que não estava previsto era uma nova etapa da Mensageiro, logo pela manhã, levando mais oito prefeitos para a prisão. Era um ciclo se fechando, com Ponticelli e Caio confirmados como réus à tarde, após os desembargadores aceitarem a denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), era um ciclo se abrindo com a nova frente de investigações que resultou na prisão dos prefeitos Armindo Sesar Tassi (MDB, de Massaramduba), Luiz Divonsir Shimoguiri (PSD, de Três Barras), Adriano Poffo (MDB, de Ibirama), Patrick Corrêa (Republicanos, de Imaruí), Luiz Carlos Tamanini (MDB, de Corupá), Adilson Lisczkovski (Patriota, de Major Vieira), Alfredo Cezar Dreher (Podemos, de Bela Vista do Toldo) e Felipe Voigt (MDB, de Schroeder).

Com isso, temos 15 prefeitos presos em Santa Catarina neste momento, o que começou a dar visibilidade nacional ao caso. O MP-SC tem apresentado o caso como o maior escândalo de corrupção da história do Estado – e se não for pelo valor de recursos desviados, certamente será imbatível em capilaridade. As defesas têm tentado marcar a investigação como uma espécie de Operação Lava-Jato catarinense – não nos méritos, mas nos excessos e no precariedade das investigações baseada em delações premiadas. A narrativa que vai prevalecer, o tempo dirá.

O que se percebe agora, é a troca de ciclo. Da primeira leva de sete prefeitos presos, cinco já foram considerados réus por corrupção passiva pelo TJ-SC: Ponticelli e Deyvisonn Souza (MDB, de Pescaria Brava), Luiz Henrique Saliba (Progressistas, de Papanduva), Vicente Corrêa Costa (PL, de Capivari de Baixo) e Marlon Neuber (PL, de Itapoá). Embora ainda faltem as decisões envolvendo Antônio Rodrigues (Progressistas, de Balneário Barra do Sul) e Antonio Ceron (PSD, de Lages) – esta marcada para 11 de maio -, é possível dizer que o primeiro ciclo de prefeitos investigados na Operação Mensageiro fechou-se simbolicamente ontem, com a decisão envolvendo Ponticelli e Caio, os peixes grandes. As maiores cidades atingidas pela investigação são Lages e Tubarão, mas Ceron, pela idade e trajetória, não almejava mais um voo rumo às majoritárias estaduais, como planejava Ponticelli.

O novo ciclo tem a marca da própria mudança no comando do MP-SC. No início de abril, Fábio Trajano substituiu Fernando Comin no cargo de procurador-geral de Justiça. Ambos vem do mesmo grupo, o que indica continuidade das ações, mas é importante ressaltar que Trajano fazia parte da gênese da Mensageiro. Embora as investigações não passem formalmente por seu gabinete, é claro que todo o suporte necessário será concedido. Semana passada, em entrevista à Rádio Som Maior, Trajano defendeu a operação e falou dela com desenvoltura. Rejeitou a ideia de que haja “criminalização da política”, defendeu a prisão preventiva dos prefeitos por que “as provas são robustas” e apontou que os serviços de iluminação pública prestados pela Serrana a municípios também estão sendo investigados.

Por isso, a expectativa é de que a rede do Geaco continue avançando em direção aos municípios – e se outros Ponticellis e Cerons ficarão enredados nela. Esse é o enredo da nova temporada da Mensageiro.


Sobre a foto em destaque:

Caio Tokarki e Joares Ponticelli em entrevista coletiva em Tubarão, poucos meses antes da prisão. Foto: Prefeitura de Tubarão, Divulgação.

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