Como a IA vai desafiar reputações em 2026

Parece até coisa do demônio! Na última coluna, alertei para um assunto que começa a tirar o sono de candidatos, marqueteiros, juristas e especialistas em reputação: o impacto da inteligência artificial nas eleições de 2026. E prometi voltar com dicas para quem deseja se blindar desde já.

Pois bem: se você ainda não está se preparando para o mau uso da IA, está atrasado.

Não estamos falando de uma tecnologia qualquer. A IA generativa que já está em uso é capaz de replicar a sua imagem, sua voz e até seus gestos com um nível de realismo assustador. Se isso faz parte do seu dia a dia, pode até perceber nuances artificiais. Mas e quando um conteúdo falso, com aparência verdadeira, começa a circular com força e sem qualquer rastro claro de origem?

Conversei com o advogado Isaac Medeiros, especialista em Direito Digital e Eleitoral, e a análise é direta: “A popularização da IA, somada a orçamentos maiores que em 2024 e à crescente polarização, faz com que o mau uso dessa tecnologia seja um fator de risco inédito para reputações. A maioria das pessoas saberá que um vídeo do Lula confessando ser um espião chinês é falso. Mas será que vão duvidar da veracidade de um áudio aparentemente realista em que o diretor de uma estatal combina desviar verba para uma campanha?”.

O que agrava tudo isso é o WhatsApp. Como lembra Isaac, a Meta — empresa que controla a plataforma — não oferece ferramentas adequadas de rastreabilidade, o que dificulta qualquer controle ou responsabilização em massa. “A chance de termos uma eleição judicializada é grande. Candidatos que usarem IA irregularmente podem ser punidos, desde que se prove vínculo com a criação ou circulação do conteúdo. Mas impedir que isso se espalhe por grupos e listas privadas é praticamente impossível”, diz.

E o que fazer, então?

Mais do que reagir, é preciso se antecipar. E isso significa estruturar uma defesa que vá além do jurídico. Abaixo, algumas estratégias que complementam a atuação técnica com visão de reputação:

1. Mapeamento prévio de riscos e vulnerabilidades

Identificar desde já quais temas são sensíveis para o candidato; quais narrativas já circularam (ou podem circular) e quais figuras são mais visadas. Isso permite prever e construir respostas antes que a crise ocorra.

2. Criação de “vacinas”

Conteúdos que desarmam narrativas falsas antes mesmo de circularem. Por exemplo, vídeos ou postagens que reforcem a verdade sobre determinado ponto sensível. A “vacina” terá ainda maior importância nas próximas eleições. 

3. Equipe de resposta rápida (war room digital)

Comunicadores e juristas preparados para agir em minutos, não horas. O tempo de reação será fundamental para conter estragos — especialmente em canais como Instagram, TikTok e WhatsApp.

4. Monitoramento em tempo real

Ferramentas de social listening (imagem e áudio) podem identificar variações suspeitas ou conteúdos manipulados em circulação.

5. Treinamento de porta-vozes e candidatos

Saber responder com firmeza, autenticidade e clareza sobre conteúdos falsos pode conter um escândalo. O despreparo, ao contrário, pode amplificar o estrago.

6. Invista em comunicação desde já 

A reputação é algo que precisa de tempo. Se deixar para investir em comunicação lá na frente, pode ser tarde.

Quem quiser sobreviver às eleições de 2026 com sua imagem intacta precisa parar de ver a inteligência artificial apenas como inovação. Ela é também um risco, que precisa ser gerido com estratégia, rapidez e antecedência.

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