
Um CEO muito bem-sucedido, abalado por uma operação policial que atingiu em cheio sua empresa e sua reputação pessoal e profissional, precisou sair de cena. Não foi um caso qualquer. A operação reuniu todos os elementos que garantem audiência: delação premiada, prisão, tornozeleira eletrônica. Houve condenação. A empresa mudou de marca. O caso, ainda hoje, volta e meia reaparece no noticiário. Mas a vida, como sempre, seguiu.
Por muito tempo, esse executivo optou pelo silêncio. Delegou a terceiros a tarefa de falar em nome da empresa, manteve distância dos holofotes e evitou entrevistas. Até que decidiu que havia chegado a hora de retornar.
E então surge a pergunta que não costuma aparecer nos manuais de gestão: existe vida depois que a reputação vira pó?
Reconstruir uma imagem abalada não é simples, nem rápido. Exige tempo, método e, sobretudo, consciência do dano causado. O desafio não está apenas em voltar a falar, mas em entender como falar e para quem. Como lidar com clientes que não esqueceram? Com colaboradores que viveram o impacto por dentro? Com parceiros, autoridades reguladoras, investidores e, inevitavelmente, com a imprensa?
Um dos exemplos mais emblemáticos desse processo foi o da Odebrecht. Após as denúncias de corrupção reveladas pela Lava Jato, o grupo enfrentou reestruturação profunda, recuperação judicial e mudança de nome. Só recentemente a empresa de engenharia e construção retomou a marca original.
A nota oficial divulgada após o escândalo tornou-se um marco: “Desculpe, a Odebrecht errou”. O texto reconhecia falhas, pedia desculpas e anunciava a adoção de um amplo programa de conformidade.
Não foi um gesto aleatório. Em crises dessa natureza, o primeiro movimento raramente é técnico; ele é simbólico. As pessoas tendem a dar uma chance a quem demonstra arrependimento genuíno. Mas dificilmente perdoam quem insiste em negar fatos ou reescrever a própria história.
Esqueletos no armário não desaparecem com o tempo. Eles apenas ficam mais barulhentos quando alguém resolve abrir a porta errada. Por isso, lidar com o passado exige mais do que silêncio estratégico. Exige enfrentar os fatos, assumir responsabilidades e compreender que reputação não se reconstrói com discurso, mas com coerência.
Seguir em frente, depois de um episódio que feriu a imagem, passa por algumas decisões fundamentais: parar de agir como vítima, abandonar a esperança de esquecimento coletivo e aceitar que o passado fará parte da narrativa – ainda que não precise defini-la para sempre. Transparência, consistência de comportamento e respeito à inteligência do público são pré-requisitos.
No fim das contas, reputação não é a arte de parecer impecável. É a capacidade de responder com maturidade quando a biografia cobra seu preço. E, gostemos ou não, todo armário cheio exige coragem para ser aberto.





