Artigo de Maykon Meier, cofundador e diretor de P&D na Lyncas

Esses dias, enquanto mexia no aplicativo do meu banco, reparei em uma seção específica para autorizar o compartilhamento dos meus dados. Estamos lidando com algo sério: meu histórico financeiro. Ao permitir o compartilhamento, esse dado começa a circular e abre portas que antes nem existiam.
Em um cenário marcado por vazamentos e desconfiança, o consentimento precisa ser tratado como um pilar fundamental, com importância estrutural e não apenas como um termo para aceitar e seguir.
Aquela ideia de que apenas a “instituição de sempre” conhece seu perfil e, por isso, é a única capaz de aprovar crédito ou oferecer boas condições é tratada de forma diferente com o Open Finance. Agora, a informação acompanha o cliente. Quem souber usá-la com ética, inteligência e contexto, passa a ter uma vantagem competitiva real no mercado financeiro.
Para ter uma noção do que estamos falando: em janeiro de 2025, o ecossistema do Open Finance no Brasil alcançou 62 milhões de consentimentos ativos, um crescimento de 44% em relação aos 43 milhões registrados no ano anterior. E mais, o sistema já realiza mais de 2,3 bilhões de comunicações bem-sucedidas por semana. O que falta, muitas vezes, é clareza de como transformar tudo isso em ação estratégica.
A inteligência artificial que realmente transforma o setor, na prática, é aquela que trabalha nos bastidores analisando padrões, ajustando decisões e antecipando comportamentos. No entanto, todo esse potencial só se realiza se os dados forem confiáveis, e aqui está um dos maiores gargalos da área.
Muitas empresas ainda coletam dados como se estivessem apenas armazenando caixas num depósito, sem curadoria, sem estrutura e sem propósito definido. Por mais avançada que seja, a IA não faz milagres sobre dados sujos ou mal interpretados. O que realmente importa é entender a jornada individual de cada cliente e reagir com rapidez.
Como personalizar sem invadir a privacidade? A responsabilidade no uso dos dados deve estar em primeiro lugar, especialmente porque a confiança é o bem mais difícil de conquistar e o mais fácil de perder. Open Finance e IA possuem um potencial enorme para gerar valor, porém, sem uma estratégia clara, acabam se tornando apenas mais duas buzzwords girando no ar.
A próxima fase do Open Finance não será liderada apenas por quem entende o mercado financeiro, mas por quem sabe aplicar tecnologia para tornar a experiência mais fluida, segura e personalizada. É justamente aí que a inovação começa a mostrar seu valor real, quando deixa de ser promessa e se transforma em solução concreta para as pessoas.