Em 2021 a Associação Brasileira de Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), colocou o Brasil como o quarto país no ranking de maiores consumidores de produtos de beleza e higiene, perdendo apenas para os Estados Unidos, China e Japão. O estudo intitulado “panorama de 2021” também citou que o Brasil é o terceiro mercado no ranking global de países que mais lançam produtos anualmente, atrás dos Estados Unidos e da China.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o impacto ambiental da indústria de cosméticos tem gerado grande preocupação, especialmente devido ao uso de mais de 10 mil substâncias químicas, muitas delas petroquímicas, conhecidas como Poluentes Orgânicos Persistentes (POP’s). Esses compostos são altamente duráveis, levando anos para se decompor, e podem se acumular tanto no meio ambiente quanto no corpo humano.
Dentre os ingredientes mais prejudiciais estão as microesferas de plástico (utilizadas em esfoliantes), corantes, conservantes como parabenos e triclosan, e filtros UV. Esses componentes, quando descartados, frequentemente chegam aos rios e oceanos, sendo ingeridos por animais aquáticos e, eventualmente, entrando na cadeia alimentar humana.
Produtos como maquiagem com glitter e lenços umedecidos também representam um risco ambiental devido à sua composição plástica, não biodegradável. O uso indevido e o descarte incorreto de embalagens plásticas agravam ainda mais essa situação.
Em 2009, a ONG Greenpeace publicou um relatório chamado “A farra do boi na Amazônia“, destacando que o desmatamento da floresta está ligado à indústria de higiene e beleza. O documento mostrou que a expansão das fazendas de gado na Amazônia não só alimentam a produção de couro, mas também geram glicerina, um ingrediente amplamente utilizado na fabricação de cosméticos.
E o que uma empresa catarinense fez com esse problema?
A catarinense Soraia Zonta criou em 2010 a Bioart, uma empresa de biodermocosmético natural, orgânico, vegano e sustentável. Ou seja, os produtos da marca podem ser utilizados em uma lavagem do rosto, por exemplo, irem para o ralo, e caírem no esgoto sanitário com a certeza de que irão se degradar. Isto é totalmente diferente dos cosméticos atuais, que podem levar mais 400 anos para se decompor, como no caso dos microplásticos contidos em algumas maquiagens.
Conheci a história de Zonta em um evento no Centro Sul, no centro de Florianópolis. O “Sou Bio Experience“, que começou nesta quinta-feira (19) e vai até este sábado (21). Por lá, Soraia lançou um livro, o “Na pele”, que conta a sua trajetória e da sua marca.
Foto: Soraia Zonta autografa seu livro durante o evento “Sou Bio Experience”.
Créditos: Paulinho Sefton.
Segundo a obra, a empresária fundou a Bioart a partir de um problema de pele. Isto porque, segundo a mesma, a experimentação de severas alergias no rosto em decorrência do uso de cosméticos convencionais foi um dos agentes motivadores para a criação da marca, além da sua preocupação com questões ambientais e éticas tais como poluição invisível dos oceanos, rios e crueldade animal gerada a partir do consumo de cosméticos tradicionais e tóxicos.
Neste ponto é quase impossível não lembrar de uma propaganda que ficou muito conhecida a cerca de três anos, que mostrava um coelho que servia como “cobaia” para indústrias de cosméticos. Vou relembrá-los do vídeo:
Revendo este curta e o impacto que ele causou em toda a internet, foi instintivo perguntar para Soraia o que a fez, de fato, criar uma empresa de cosméticos que se preocupasse com o meio ambiente.
“Eu não vejo sentido nenhum tipo de negócio que possa poluir o meio ambiente. Tenho duas décadas de carreira, e dentro deste contexto eu descobri a longevidade não só do ser humano, mas do nosso planeta também. Nesta jornada eu descobri a toxina liberada pelas grandes fábricas e nunca quis participar disto. Outro ponto importante é que sempre tive muitos problemas de pele e pesquisando muito com cientistas eu descobri que os cosméticos também me impactavam negativamente neste sentido”, conta Soraia.
Tá, mas o assunto sobre as mudanças climáticas, a nossa pegada de carbono e o impacto das nossas ações parece cada dia mais cotidiano mas que pouco se faz algo, de fato, para mudar a nossa realidade.
Em um Brasil que queima, arde em suas matas e animais mortos pelo fogo, é quase impossível não lembrar do relatório que citei anteriormente da ONG Greenpeace. É claro, pensar ecologicamente não é para todos, não podemos ser mesquinhos.
Para quem se quer tem dinheiro para comer frutas uma vez na semana, é quase impossível imaginar que comprará uma maquiagem que polui menos o meio ambiente. O que podemos, e devemos, fazer com empresas como a de Soraia é incentivar para que ao menos a classe mais privilegiada possa entender, de fato, a importância do consumo consciente. Do equilíbrio.
Sim, podemos, e queremos, nos maquiar (ou não, muitas vezes). Mas pensar em um produto que respeita o meio ambiente é também pensar na saúde coletiva.
Com um esgoto com menos poluentes, é bem menos provável que estes compostos cheguem ao mar, por exemplo. E sim, não se iluda os peixes serão impactados. Até mesmo os servidos em restaurantes caros, chiques, seletos, serão infectados com os microplásticos.
E então, meus queridos leitores, Soraia Zonta e toda uma comunidade que encontrei dentro do evento “Sou Bio”, tem andado na contramão deste mundo que muitas vezes só vê números para enxergar que o fora, neste planeta, nunca existe. Você nunca coloca um lixo “fora”. O fora, é dentro. E o dentro, é para todos!