
Enquanto muitos municípios ainda tratam o combate à violência contra a mulher como uma pauta pontual, Joinville tem dado exemplo ao consolidar o tema como uma política pública permanente e transversal. Desde o início da gestão do prefeito Adriano Silva (Novo), em 2021, o município vem realizando um trabalho articulado com o Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres, com campanhas permanentes que buscam não apenas conscientizar, mas também provocar reflexão e ação real.
A mais recente campanha marca uma mudança de tom: ao invés de focar exclusivamente na violência física — a mais visível e frequentemente associada ao problema — a cidade passou a abordar um ponto em comum entre todas as formas de violência: a desigualdade. As peças publicitárias destacam que a violência contra a mulher se manifesta de diversas maneiras, e que todas elas têm origem em uma cultura de discriminação e desigualdade de gênero.
Violência não é só física
O grande mérito é ampliar o olhar da sociedade para violências mais silenciosas, porém igualmente destrutivas. Conforme a Lei Maria da Penha, existem cinco tipos principais de violência contra a mulher:
Física – Qualquer ação que cause dano ao corpo da mulher, como empurrões, tapas e agressões com objetos.
Psicológica – Condutas que causem danos emocionais, como ameaças, humilhações, manipulação e isolamento.
Sexual – Qualquer ato forçado ou sem consentimento, inclusive no âmbito conjugal.
Patrimonial – Controle ou destruição de bens, documentos, dinheiro e objetos da mulher.
Moral – Calúnia, difamação e injúria.
A nova abordagem traz à tona questões estruturais, como a disparidade salarial entre homens e mulheres, o acúmulo de jornadas, o apagamento da presença feminina em espaços de decisão e a culpabilização da vítima. Violências que não deixam marcas visíveis, mas minam a autonomia e a dignidade das mulheres.
“Nós, mulheres, estamos ocupando, cada vez, mais o mercado de trabalho, inclusive em espaços de liderança ou em áreas que eram predominantemente masculinas. Esta campanha complementa um trabalho que já vem sendo feito há alguns anos para conscientizar sobre os tipos de violências que as mulheres, infelizmente, ainda sofrem. Desta vez, o foco é mostrar que descredibilizar ou desrespeitar mulheres em suas profissões também é crime, reforçando uma mensagem na qual acredito muito, porque o lugar de mulher é onde ela quiser estar”, destaca a vice-prefeita de Joinville, Rejane Gambin.
Números alarmantes em Santa Catarina
Os dados mais recentes do Observatório da Violência Contra a Mulher da Assembleia Legislativa de Santa Catarina mostram que a realidade do estado ainda é alarmante. Mesmo com a redução de feminicídios no primeiro semestre de 2025, o segundo semestre teve o registro de seis feminicídios em apenas sete dias — um dado que por si só já denuncia a urgência da pauta.
Além disso, o relatório mais recente do Observatório aponta que, em 2024, foram registradas mais de 70 mil ocorrências relacionadas à violência doméstica em Santa Catarina. Dentre elas, mais de 60% envolveram violência psicológica — reforçando a importância de campanhas que ajudem a população a reconhecer e combater todos os tipos de agressão.
Política pública com propósito
Joinville caminha na contramão da banalização. Enquanto outros municípios se limitam ao calendário do Agosto Lilás, Joinville transforma campanhas em políticas permanentes. E mais do que isso: transforma sensibilização em ação.
Certamente a atuação de uma mulher no cargo de vice-prefeita tem contribuído para isso. Rejane Gambin tem liderado o enfrentamento à violência contra a mulher com sensibilidade e firmeza, atuando para que as políticas públicas voltadas tenham continuidade e sejam pensadas a partir de um olhar plural e interseccional.
A cidade ainda tem desafios a enfrentar, como todas, mas demonstra que vontade política e escuta ativa da sociedade civil organizada são caminhos possíveis para avançar.