A semana de votações polêmicas na Câmara dos Deputados, com a aprovação da PEC da Blindagem e do regime de urgência para o projeto de anistia aos envolvidos na chama trama golpista julgada no Supremo Tribunal Federal (STF), deu motivação para as manifestações convocadas por partidos e lideranças de esquerda neste domingo. Foram registrados atos em 18 capitais, incluindo Florianópolis.

Em Florianópolis, cerca de 5 mil pessoas participaram da manifestação, que teve início na cabeceira da Ponte Hercílio Luz. Os manifestantes pretendiam cruzar a ponte durante o ato, mas o local foi bloqueado pela Polícia Militar – o que gerou críticas ao governador Jorginho Mello (PL). O governo afirmou, através da Secretaria da Intraestrutura, alegou que eventos na Ponte Hercílio Luz precisam de autorização prévia e estudos de avaliação do impacto sobre a estrutura.

Sem acesso à icônica travessia, os manifestantes seguiram em caminhada pelo Centro da Capital até o Terminal Paulo Fontes. O ato foi organizado pelas entidades que compõem as Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, contando com a presença de deputados estaduais e federais, vereadores da região e lideranças de movimentos sociais.

Entre os presentes, esteve o deputado federal Pedro Uczai, que fez um discurso destacando a gravidade das propostas em tramitação no Congresso.
– Estamos aqui para dizer que a democracia não se negocia. Blindar políticos de investigações e anistiar crimes cometidos contra o povo e contra o Estado democrático de direito é retroceder décadas de conquistas. Nossa luta é para garantir justiça, memória e verdade – afirmou Uczai.

O deputado estadual Marquito (PSOL), segundo colocado na disputa pela prefeitura de Florianópolis em 2024, também discursou para os manifestantes. Ele avaliou o encontro.
– Foi lindo demais ver o povo de Florianópolis na rua, com essa força de mobilização, para dizer não à anistia aos golpistas e à PEC da Blindagem. Milhares de pessoas, que saíram de suas casas, debaixo de chuva, para demonstrar sua indignação com fatos impossíveis de serem aceitos. É evidente que grande parcela da população não aguenta mais que a política seja desvirtuada para atender os interesses de poucos privilegiados. O povo na rua, nessa proporção que vimos hoje, é um recado contundente que é preciso mudanças na atuação dos nossos políticos.
Presença de artistas marcou manifestações pelo Brasil
Em São Paulo, o principal ato ocorreu na Avenida Paulista e reuniu 42,4 mil pessoas, segundo cálculo do Monitor do Debate Político do Cebrap, da USP, em parceria com a ONG More in Common. A estimativa, com margem de erro de 12%, aponta que o público no momento de pico variou entre 37,3 mil e 47,5 mil participantes. O número é ligeiramente superior ao da manifestação pró-anistia, que contou com 42,2 mil pessoas. O protesto na capital paulista foi marcado pela presença de faixas e cartazes de movimentos sociais e sindicatos.
No Rio de Janeiro, a praia de Copacabana foi o palco da manifestação, que juntou 41,8 mil pessoas, de acordo com o mesmo levantamento do Cebrap/USP. No momento de pico, a estimativa variou entre 36,8 mil e 46,8 mil manifestantes. O grande diferencial do ato na capital fluminense foi a forte presença artística. Um trio elétrico montado no Posto 5 contou com apresentações de nomes como Caetano Veloso, que comandou o evento, Gilberto Gil, Chico Buarque, Djavan e Paulinho da Viola.
As manifestações se espalharam por diversas outras capitais. Em Salvador, o ato no Morro do Cristo foi liderado pela cantora Daniela Mercury e contou com a presença de artistas como Wagner Moura e Nanda Costa. Em Belo Horizonte, a concentração na Praça Raul Soares teve shows de Fernanda Takai e da banda Lamparina. Já em Brasília, o protesto em frente ao Museu Nacional da República teve a participação do cantor Chico César e cânticos de “Sem anistia para golpista” puxados por um trio elétrico.