Comitiva brasileira vetada na COP do Tabaco: reação e o silêncio que não será aceito

A COP11- Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS) começou ontem, 17, em Genebra, repetindo um roteiro já conhecido: quando o assunto é tabaco, abre-se o debate, mas fecha-se a porta para quem produz, trabalha, exporta e sustenta municípios inteiros. A comitiva brasileira do setor produtivo foi barrada logo no primeiro dia da conferência.

O evento reúne delegações de mais de 190 países para discutir políticas globais de controle do tabaco – decisões que impactam diretamente municípios, empregos e exportações do Sul do Brasil.

Uma COP pelo controle do tabaco que controla, antes, quem pode falar sobre ele. Ironia diplomática ou estratégia política? No Brasil, chama-se simplesmente de silenciamento institucionalizado.

Mas, ao contrário do que talvez esperassem, a reação não foi de recuo, mas sim, de movimento.

Se uma COP internacional ignora trabalhadores, produtores e representantes eleitos, não é uma conferência, é um monólogo regulatório.

A comitiva brasileira pode ter sido barrada, mas não silenciada.

No tabaco, assim como no agro, ficar e resistir é política pública.

E no cooperativismo, ao contrário da COP, portas se abrem: Sicoob se consolida entre as marcas mais valiosas do país. Já em Chapecó, cultura, agro e memória se encontram no lançamento nacional do filme sobre Aury Bodanese – uma obra que imortaliza uma das maiores lideranças cooperativistas do país, transmitida ao vivo para o Brasil inteiro.

Vamos por partes, começando onde foi imposto silêncio e a gente faz questão de dar voz.

Comitiva barrada e indignação registrada

Sem acesso ao plenário, o grupo que defende o setor produtivo se mobilizou. Reuniões paralelas, articulação política e uma agenda emergencial foram imediatas.

O prefeito de Mafra, Emerson Maas e vice-presidente da Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco), foi direto:

“Infelizmente não tivemos acesso ao salão principal de debates. Mais de 40 mil produtores que representam R$ 3,3 bilhões na economia no nosso estado. Então não podemos arredar o pé e não desistiremos de apresentar o nosso posicionamento na defesa dos nossos produtores.”

O deputado federal Rafael Pezenti (MDB -SC) reforçou:

“Não temos direito ao contraditório, não temos como nos defender, ou sequer conversar com o governo federal, que veio aqui para trabalhar contra a gente. Vamos buscar apoio internacional para evitar que aqueles que dizem nos representar, façam mal aos nossos produtores.”

A declaração cristaliza o incômodo: não há neutralidade no processo. Há direcionamento.

Nem imprensa entrou

Além dos produtores, parlamentares e entidades, jornalistas brasileiros especializados na cadeia fumageira tiveram seus pedidos de credenciamento negados – mesmo com documentação entregue no prazo.

Parlamentares preparam documento oficial de protesto ao embaixador brasileiro na Suíça.

Agenda com a diplomacia e tentativa de abrir portas

Hoje (18), a delegação será recebida pelo embaixador Tovar da Silva Nunes, chefe da Missão Permanente do Brasil junto à ONU (Organização das Nações Unidas).

Até lá, seguem reuniões paralelas com entidades internacionais, parlamentares e representantes políticos dos países fumicultores – prática conhecida quando as conferências fecham espaço ao contraditório.

A cadeia do tabaco no Brasil — os números ignorados

Os dados da safra 2024/2025, apresentados por entidades brasileiras, confirmam a dimensão do setor:

  • 525 municípios produtores
  • 138 mil produtores rurais
  • 533 mil pessoas envolvidas no meio rural
  • 720 mil toneladas produzidas
  • R$ 14,6 bilhões pagos aos produtores
  • 447 mil toneladas exportadas em 2024
  • US$ 2,89 bilhões gerados em divisas
  • R$ 18,8 bilhões arrecadados em impostos

Ainda assim, a COP iniciou sem representantes que defendem esta cadeia.

Filtro: o ponto mais sensível e já com impacto global

Entre as propostas defendidas pelo governo brasileiro está a proibição de filtros em cigarros e a limitação na criação de novos produtos derivados.

Para os produtores, o filtro não é detalhe, mas sim, o centro do modelo industrial e comercial atual.

Romeu Schneider, vice-presidente da Afubra – Associação dos Fumicultores do Brasil, alertou:

“Se a proibição avançar, não será ajuste, será extinção do principal formato comercializado no mundo.”

Segundo Schneider, sem filtros, o consumidor migra para o cigarro ilegal, onde não há fiscalização, controle ambiental ou tributário e o prejuízo recai sobre produtores, arrecadação e segurança pública.

Trabalhadores reagem com nota oficial

A Fentitabaco – Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Tabaco e Afins classificou o veto como “agressão ao diálogo democrático”.

A nota, assinada pelo presidente Rangel Marcon, afirma que toda a documentação foi apresentada conforme exigido e que impedir a representatividade dos trabalhadores aprofunda a sensação de que a COP opera sem participação social real.

Enquanto isso, em Brasília… PL Antifacção – clima para votação ainda não existe

O Projeto de Lei Antifacção está na pauta desta terça (18), mas entre COP, feriado e falta de acordo político, a votação pode ser novamente adiada.

Para o agro, especialmente o de regiões vulneráveis à atuação do crime organizado, o recado é claro: insegurança jurídica custa caro.

Tarifaço de Trump – recuo parcial, impacto mantido

O governo norte-americano retirou a tarifa global de 10%, mas manteve os 40% adicionais aplicados especificamente ao Brasil.

No café, carne e derivados cítricos, segue a incerteza.

No suco de laranja, o alívio é parcial, mas longe de resolver.

O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, classificou o movimento como “avanço diplomático”.

Para o agro, a tradução é outra: a conta continua salgada.

Cooperativismo cresce e bate recorde

O Sicoob — Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil entrou pela primeira vez no ranking das 50 marcas mais valiosas do país, avaliado em R$ 10,55 bilhões, tornando-se a marca cooperativa mais valiosa do Brasil.

Com 4,6 mil pontos de atendimento e presença em todos os estados brasileiros, o Sicoob consolidou-se como uma das principais instituições financeiras do país. O Sistema administra mais de R$ 400 bilhões em ativos, reflexo de um modelo cooperativo sólido, eficiente e voltado ao desenvolvimento regional.  

Coerência entre propósito e entrega, algo que, nesta semana, a COP não conseguiu demonstrar.

Chapecó homenageia um legado nacional

Hoje (18), às 19h, em Chapecó, ocorre o lançamento do filme “Antes do Nascer do Sol”, que retrata a história de Aury Bodanese, um dos maiores nomes do cooperativismo brasileiro.

A transmissão ao vivo para todo o Brasil começará pontualmente às 18h57, com expectativa de alcançar 1 milhão de pessoas.

Criado por Osnei de Lima e Julmir Cecon, o longa retratará a vida, a obra e o impacto de Aury Bodanese no desenvolvimento do agronegócio catarinense e nacional. A direção de marketing do projeto é assinada por Fernanda Moreira, do Grupo Condá.

Não é apenas memória, é identidade.

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