
Nesta coluna Fora do Tom, o protagonista não é uma pessoa física. Não será um gestor ou político o foco da análise. Hoje, quero falar sobre problemas de imagem de um “CNPJ”: uma das cidades que mais admiro no país, Belém.
É verdade que o episódio não envolve apenas o município, mas toda a organização da COP30. No entanto, para o resto do país e o mundo será a imagem de Belém que sairá vitoriosa ou derrotada ao final desse processo.
O caso é notório: a capital paraense se preparou para brilhar como sede da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025. Mas agora enfrenta uma crise que vai muito além de um problema logístico. É um espelho simbólico de como políticos, instituições e até grandes eventos constroem uma imagem positiva e colocam tudo a perder por falhas de gestão ou de governança.
Belém mobilizou forças, chamou a atenção do mundo e conseguiu levar a COP.
Um golaço! O Pará se colocou no centro do debate climático global, com expectativa de visibilidade, protagonismo e, claro, muito dinheiro movimentando o turismo.
Tudo certo, tudo lindo até que a crise da rede hoteleira começou a ganhar as manchetes, impulsionada pelo descontentamento de delegações estrangeiras. Com a alta demanda por hospedagem, hotéis da cidade “cresceram os olhos” e passaram a cobrar diárias abusivas algumas acima de R$ 10 mil. Houve até o caso de um hotel que cobra normalmente R$ 100 pedindo US$ 2 mil por uma única noite.
O resultado era previsível (menos para a organização do evento): a imagem construída ao longo de anos começou a balançar em poucos dias. A conferência, agora, corre o risco de mudar de cidade.
Mesmo que o evento permaneça em Belém, como é mais provável, o episódio já é trágico e, ao mesmo tempo, educativo. Sem querer, a capital virou um estudo de caso sobre reputação. Mais do que isso: virou metáfora perfeita do que acontece com muitos políticos e líderes no Brasil e no mundo.
Assim como a COP30 em Belém, há líderes que investem pesado em comunicação, constroem com esmero sua presença digital, gravam vídeos bem produzidos e contratam os melhores marqueteiros para cuidar da imagem. Mas, nos bastidores, na chamada “vida real”, não há controle nem governança.
O resultado? Uma frase mal colocada, um escândalo com um assessor ou uma rede social abandonada podem fazer o castelo começar a rachar.
Quem cuida de reputação precisa entender a diferença entre imagem e identidade. A identidade é a concepção que uma marca tem de si mesma, construída internamente. Já a imagem é externa. É a forma como o público a percebe. Belém provavelmente caiu na armadilha de cuidar da aparência e esquecer o que sustentava essa imagem.
E, como toda narrativa que depende apenas da forma, a cidade foi derrubada por um fator aparentemente “pequeno”: o preço das diárias. Ou, mais precisamente, pela ausência de comando sobre o setor privado responsável pelas hospedagens.
É o mesmo erro do político que discursa sobre transparência, mas mantém um aliado investigado.
Do gestor que defende diálogo, mas se omite na hora da crise.
Ou do deputado que se posiciona bem, mas não entrega nada na prática.
Imagem pública não é peça de marketing. É a consequência de uma engrenagem inteira funcionando em harmonia. Discurso importa, mas a operação e a conduta nos bastidores também importam. Quando um desses pilares falha, a reputação entra em modo de risco.
Belém vai pagar caro. Talvez consiga reverter, talvez não. Mas o alerta está dado: não se perde uma COP30 à toa, assim como não se perde uma eleição do nada. Quase sempre, a derrota já vinha sendo construída em silêncio, nos bastidores, nos detalhes que ninguém quis enxergar.
No fim, a reputação de Belém virou refém de um setor desregulado.
E a sua, líder, está nas mãos de quem?
Obs: a imagem ilustrativa foi feita com auxílio da IA