Eleito por aclamação em dezembro, Joel da Costa Jr. voltou à presidência da Liga das Escolas de Samba de Florianópolis às vésperas do Carnaval 2004. Nesta entrevista, ele fala sobre a preparação para o desfile na passarela Nego Quirido – em 10 de fevereiro –, a organização da maior festa popular do país, o pedido para volta do desfile das campeãs e a reivindicação de uma Cidade do Samba.
A menos de um mês do Carnaval 2024, como está a organização do Carnaval e a preparação das escolas para os desfiles na avenida?
Montamos uma diretoria muito técnica e atuante. Precisávamos desse choque de realidade, de uma entidade que representasse as escolas de samba e desse um norte. Já tinha um processo em andamento: com a ausência da participação da Liesf, a prefeitura assumiu o protagonismo de organizar os convênios com as escolas, que está indo para o segundo repasse.
E em que pé está a situação?
A prefeitura está fazendo o papel dela: as escolas e a Liesf estão tendo essa percepção. Aliás, é um momento diferente do poder público. Comparando com o período entre 2015 e 2017, quando fui presidente da Liesf, vejo uma prefeitura mais aberta, querendo realizar a festa de uma forma mais organizada e com estrutura.
A gente percebe isso com esse aporte junto às escolas de samba, mas vê que ainda é pouco, pensando no todo. O que a Liesf está fazendo nesse momento? Chamando a iniciativa privada, o governo federal e o governo estadual para ver como a gente consegue equilibrar essa conta e dar mais tranquilidade às escolas.
A Liesf está defendendo a volta do desfile das campeãs no Carnaval 2024, que não aconteceu na festa do ano passado?
Sim. Por vários motivos. A maioria das famílias do maciço do morro da cruz espera esse momento de entretenimento, como participantes e foliões do Carnaval. Não podemos tirar o que já é histórico e o que a gente tem de melhor: é o desfile das campeãs das escolas de samba de Florianópolis! A Liesf vê como um retrocesso não ter mais o desfile, mas por outro lado a gente ve a prefeitura com vontade de trazer de volta.
Qual deve ser o principal foco na discussão sobre a organização do Carnaval?
Em primeiro lugar, organizar o principal produto que temos, que é a manifestação cultural de todas as escolas de samba e apresentar como um produto vendável. Nós já temos o principal, que é o espetáculo. O que a gente precisa? Dar o maior conforto e tranquilidade para que as escolas consigam aprsentar o que sabem fazer e que a gente posssa organizar isso a médio e longo prazo.
Uma das ferramentas é fazer um grande planejamento estratégico pensando no calendário do ano, logo que a festa termine. Isso reforça a realização do Carnaval seguinte. Com as escolas tendo condições de organizar e a liga dando o norte – e a iniciativa privada se interessando, percebendo que há organização. Basicamente, é isso: organização e apresentação de um produto vendável, que consiga dar mais retorno às escolas.
Uma das bandeiras da Liesf é a construção da Cidade do Samba?
Isso é fundamental. Não tem como falar de Carnaval de alto nível com as escolas sem ter um lugar para se organizarem durante o ano. Até o ano passado, as escolas tinham que se virar logo que os carros alegóricos saíam da avenida. A prefeitura entendeu isso de forma imediata e estão sendo montados, no CentroSul, os galpões que serão utilizados pelas escolas. Mesmo que provisório, é um grande avanço.
Estamos chamando o setor de patrimônio da União para discutir um grande centro cultural na área da Via Expressa Sul (Beira Mar Sul), onde as escolas possam trabalhar o ano todo, que a gente consiga resgatar a ideia do Museu do Carnaval. Tem também a possibilidade de incluir a passarela do samba nesse projeto.
O financiamento público do Carnaval é sempre motivo de debate. O que você pensa a respeito?
Segundo a Unesco e o próprio Ministério da Cultura, o Carnaval é a maior manifestação cultural do país. Se não for apto a receber apoio público, nenhum evento abaixo disso pode receber. É uma coisa inegociável. Além disso, dá muito retorno financeiro.
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Joel já comandou a Liga das Escolas de Samba de Florianópolis nos carnavais de 2015 a 2017. Foto: Fabio Gadotti