Por Deborah Almada
Quando eu tinha 28 anos quis voltar à universidade para cursar Direito – uma profissão que sempre admirei muito. Casada e com dois filhos pequenos, ouvi de pessoas muito próximas: “O que vais fazer em meio a tanta gente jovem? “Vai ser a tia da turma”. “Ridículo”.
Na época, me questionei sobre uma decisão que implicaria ficar menos tempo com meus filhos e prejudicar o trabalho como repórter de jornal. Seria corrido demais e pelo visto não teria o apoio que certamente seria necessário. Desisti.
Na semana passada, a Associação Catarinense de Imprensa promoveu o MaturiDay, evento voltado para inserção de profissionais 50+ no mercado de trabalho. Refleti novamente sobre a relevância dessa pauta. O mercado de trabalho é, sim, cruel para pessoas que passaram dos 50 anos. Mas ele é ainda mais cruel com as mulheres que ultrapassaram essa barreira.
Estereótipos, preconceito, abuso, desconhecimento contribuem para dificultar o acesso das mulheres ao mercado após uma determinada idade. Soma-se a isso, o fato de que a diversidade entrou para a agenda da maioria das empresas como uma ação de marketing e não como estratégia.
Ainda hoje, 2024, a gente fica sabendo de mulheres que viram mães e são demitidas no retorno ao trabalho. O empregador faz as contas e conclui que essa mulher vai faltar mais, porque o filho pode ficar doente. Ainda no recrutamento, mulheres são questionadas sobre seus planos para o futuro e, se a resposta for “ser mãe”, a sorte está lançada.
Agora, se a mulher tem mais de 50 anos, isso é ainda mais dramático. Afinal, mulheres 50+ deveriam estar cuidando dos netos para que os filhos e filhas possam ir atrás dos seus sonhos sem ter que se preocupar em buscar na creche, brincar na praça ou arranjar o que fazer nas férias. Quem autorizou mulheres 50+ a alimentarem sonhos que não cabem no script, não é mesmo?
Se conseguem ultrapassar a barreira da disponibilidade de tempo, as mulheres maduras esbarram em outro problema: como competir com jovens recém chegados ao mercado de trabalho, com muita energia e a facilidade de conviver com os novos padrões do mundo corporativo e com tecnologias com as quais já nasceram convivendo?
Será mesmo que as mulheres 50+ são incapazes de se adaptar? Eu arrisco dizer que mulheres maduras têm características que podem ser uma vantagem competitiva no ambiente de negócios. A bagagem que vem com o tempo, a experiência, o estudo constante, aperfeiçoamento na área de atuação, inteligência emocional e a capacidade de ler e projetar cenários colocam a mulher 50+ em qualquer jogo.
Acredito tanto nisso, que aos 59 anos, à frente de uma agência de comunicação, cumprindo o segundo mandato como presidente de uma entidade (a primeira mulher em quase 100 anos), me inscrevi num curso de head de marketing.
Alguém me perguntou porque isso, a essa altura do campeonato. E a resposta é simples: tenho curiosidade pela vida, tenho saúde, me sinto preparada e, se bobear, ainda vou aprender a tocar piano em 2024.
Deborah Almada é jornalista, presidente da Associação Catarinense de Imprensa (ACI) e sócia-diretora da All Press Comunicação.