As eleições de outubro do ano passado não indicaram que a carreira política do ex-governador Carlos Moisés (Republicanos) pudesse ter um futuro. Ficar fora do segundo turno na disputa pela reeleição é o tipo de marca que afugenta possíveis aliados, mesmo aqueles mais fiéis nos tempos de jantares na Casa d’Agronômica e farta distribuição de recursos. Rei morto, rei posto.
Curiosamente, o governador Jorginho Mello (PL), vitorioso nas urnas, parece ajudar a manter Moisés com alguma evidência. Na falta de adversários claros ao projeto político que se inicia, o atual governante acaba se escorando na crítica ao antecessor e no desmonte das ações do governo anterior como consolidação de sua gestão. Tem derrapado desnecessariamente.
Jorginho iniciou o governo falando que a situação econômica do governo “não é aquela belezura toda” que Moisés propagava. O secretário da Fazenda, Cleverson Siewert, foi escalado para mostrar que o Estado viveu uma situação arrecadatória fora da curva nos anos Moisés, fruto dos repasses do governo Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia, a suspensão do pagamento da dívida com a União e a inflação em produtos que se refletem diretamente no caixa estadual, via ICMS, como a gasolina e a energia elétrica. É um diagnóstico correto e que inspira cuidados. E que vem dando margem ao desmonte do legado de Moisés.
Assim foi percebida a decisão de cortar em 80% os recursos previstos para o programa Bolsa Estudante, uma aposta da gestão anterior para conter a evasão escolar no Ensino Médio. As bolsas de cerca de R$ 600 beneficiariam 60 mil estudantes, alcance que cairia para 10 mil com o corte de recursos. A medida ganhou destaque no final de semana e demorou para ter uma resposta clara do governo estadual sobre os motivos que levaram ao cancelamento. A fala oficial de que os resultados não foram efetivos, após apenas um ano de aplicação do programa, soaram como desculpa improvisada. A narrativa que pesa é a de desmontar mais um programa do antecessor.
O carro-chefe do governo Moisés, o Plano 1000, também já foi extinto por Jorginho. As obras em andamento serão concluídas, garante o governador, mas as demais ações previstas para os próximos quatro anos vão passar por um pente fino em debate com as bancadas regionais. Jorginho vai colocar sua digital na manutenção das obras e descartar o que não considerar prioritário. Alguns prefeitos vão reclamar, outros preferirão a cautela e a esperança. É do jogo. O Plano 1000 era um programa que dependia de dois fatores óbvios: a manutenção da exuberância arrecadatória do Estado; a reeleição de Moisés.
Embora tenha respaldo na situação financeira do Estado, as decisões do governo Jorginho acabam dando a Moisés um holofote que não se esperava que ele recebesse em 2023. O ex-governador têm se movimentado. Assumiu a presidência estadual do Republicanos – que lhe foi negada quando governador e candidato. Esteve em Brasília, gravou vídeo com o presidente nacional da legenda, o deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP).
No último sábado, Moisés participou do congresso do Movimento Brasil Livre (MBL), em São José, ao lado de nomes como o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e o ex-deputado estadual paulista Arthur do Val. Vestiu a camisa do grupo e defendeu as ações de seu mandato. Garantiu que quer continuar atuando na política catarinense.
Aparentemente, terá ajuda do governador Jorginho Mello nessa empreitada. Afinal, em política, muitas vezes é mais importante escolher o adversário do que os aliados.
Sobre a foto em destaque:
Moisés discursa em evento do MBL em São José. Fotos: Bruno Borges, Divulgação.