Poucas coisas são tão fáceis de confundir hoje quanto popularidade e influência. À primeira vista, parecem sinônimos, mas nunca foram conceitos tão distantes como agora. As eleições americanas são um excelente laboratório para entender essa dinâmica, especialmente quando mega celebridades, pessoas realmente populares, emprestam sua credibilidade tentando influenciar o eleitorado.
Na campanha de Kamala Harris, por exemplo, é fácil encontrar nomes como Taylor Swift, Oprah, Lady Gaga e George Clooney. São figuras que transcendem gerações, ícones em suas áreas, conhecidos por 9 em cada 10 americanos — e, provavelmente, pelo mundo todo. Um olhar superficial concluiria que ter o apoio dessas personalidades pesa muito na decisão do eleitorado.
No entanto, vivemos uma era de ceticismo político sem precedentes. Some-se a isso a enorme distância entre a vida dessas mega celebridades e a do cidadão médio, e fica claro por que elas, apesar da fama, não são os principais influenciadores das urnas. Na política contemporânea, a influência está no micro, não no macro.
Ela mora nas famílias, nas igrejas, na turma do futebol de quarta-feira. Está no que chamamos de pequenos espaços de confiança: pessoas que vivem como nós, enfrentam os mesmos desafios, compartilham o “mesmo metro quadrado”.
Por falar nisso, foi exatamente sobre “metro quadrado” que aprendi em uma conversa com Juarez Guedes e Darlan Campos, durante uma palestra que antecedeu o primeiro turno das eleições argentinas de 2023, que elegeram Milei presidente. Naquele dia, eles explicaram como, em um mundo fragmentado, os problemas que impactam meu país ou minha cidade não são necessariamente os que afetam meu dia a dia — e, portanto, não têm o mesmo peso para mim.
Pense em um eleitor que vive em uma cidade cheia de buracos nas ruas, mas que não dirige nem anda de carro. Para ele, esse problema não faz parte de seu “metro quadrado”. Nesse contexto, a popularidade das grandes estrelas raramente se traduz em influência direta no voto.
O cenário muda quando falamos de celebridades que se tornam candidatas. Sem querer repetir o já exaustivamente discutido, Pablo Marçal oferece um exemplo claro dessa dinâmica. Sua popularidade atribui a ele traços de personalidade que o aproximam do eleitor, e isso se transforma em ativo eleitoral. Quando popularidade e candidatura convergem, a chance de transformar fama em influência real é muito maior — exemplos como Marçal e Donald Trump não nos deixam mentir.
No fim, conexão direta com o eleitor e autenticidade valem mais do que qualquer apoio externo, mesmo vindo de estrelas mundialmente famosas. Quando o assunto é influência, sua mãe, sua esposa ou aquele amigo próximo têm mais impacto sobre você do que Lady Gaga ou Taylor Swift jamais terão. E isso, sim, diz muito sobre o que realmente importa nas eleições.