Discurso tropical, adubo ácido! O Brasil leva sustentabilidade à COP30. O campo, dívidas.

A coluna esteve in loco na FPA e traz o que foi dito – e o que precisa ser feito.

Presença em loco: COP30, documento oficial e vozes catarinenses

A coluna Política & Agro acompanhou in loco, ontem, 28, em Brasília, a reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) onde foi apresentado o documento oficial que o setor levará à COP30:

“Agricultura Tropical Sustentável – cultivando soluções para alimentos, energia e clima.”

A entrega foi conduzida pelo ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, hoje embaixador especial do agro brasileiro na conferência. Segundo ele:

“Esse é um esforço coletivo para mostrar ao mundo que sabemos produzir, preservar e inovar. Não aceitamos mais sermos vistos como vilões.”

O documento, construído por entidades, pesquisadores e lideranças do setor propõe protagonismo climático para o agro tropical e será apresentado oficialmente durante a COP30, em Belém.

Os 8 pilares do agro brasileiro para o clima

Com base em oito pilares, o relatório defende que a agricultura tropical é estratégica para enfrentar as mudanças climáticas, garantir segurança alimentar e impulsionar a transição energética global, e consolidar o Brasil como liderança natural nas soluções para o clima e o desenvolvimento sustentável. Confira:

  1. Ciência e inovação tecnológica
  2. Políticas públicas sustentáveis
  3. Cooperativismo agropecuário
  4. Transição energética
  5. Segurança alimentar e nutricional
  6. Agro paisagem e produção responsável
  7. Inclusão social produtiva
  8. Financiamento climático internacional

Vozes da reunião: FPA, MRE e exclusividade catarinense

O presidente da FPA, Pedro Lupion, reforçou:

“Estamos levando o que o agro quer dizer, não o que esperam que a gente diga. Essa será a COP mais brasileira da história — e a mais rural também.”

O secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey, também esteve presente:

“O agro brasileiro precisa ocupar os fóruns multilaterais. Temos argumentos técnicos e resultados concretos.”

A deputada federal Daniela Reinehr (PL-SC) concedeu entrevista exclusiva à coluna:

“Minha expectativa é de que nossos embaixadores, coordenadores e autoridades à frente das negociações, mostrem na COP 30 o que efetivamente o agro brasileiro faz: somos o agro mais sustentável do planeta. Somos um grande financiador de boas práticas que são exemplo para o mundo, somos eficiência em segurança e qualidade alimentar e energética, então esperamos também e que o mundo entenda o que é reciprocidade. O Brasil não pode ser o eterno pagador dessa conta – muito mais do que cobrar o mundo precisa olhar e aprender com o nosso país, agindo com reciprocidade.”

O agro na UTI do crédito

Enquanto Brasília desenha protagonismo global, o chão do campo afunda. A declaração do Banco do Brasil, informando que produtores em recuperação judicial não terão mais acesso a crédito, caiu como bomba.

A FPA reagiu. “O produtor não pede falência porque quer, mas porque foi abandonado”, disse Lupion.

Números da crise:

  • 565 pedidos de recuperação judicial no agro só no 2º trimestre de 2025
  • Alta de 31,7% em relação ao mesmo período do ano anterior

Governo amplia renegociação de dívidas rurais

Na tentativa de aliviar a pressão, o Ministério da Agricultura ampliou a lista de municípios atingidos por eventos climáticos extremos, tornando-os aptos à renegociação de dívidas rurais com recursos do crédito oficial.

A medida, que foi publicada ontem, 28, no Diário Oficial da União, foi comemorada, mas o setor cobra agilidade na execução e acesso efetivo aos fundos.

Com isso, subiu para 1.436 o número de municípios contemplados pelos recursos repassados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

O susto do enxofre

O preço do enxofre subiu 115% neste ano, afetando diretamente o custo do superfosfato simples (SSP) – base para fertilizantes usados especialmente na soja e no milho.

🌎 Com a Índia estocando, a Europa retraída e a China elevando compras, o Brasil, dependente da importação, vê os custos da adubação subirem enquanto o crédito some.

O arroz encolhe no prato

📉 O consumo per capita de arroz caiu ao menor nível histórico no Brasil: 34 kg/ano.

A Abiarroz lançou a campanha “Arroz Combina” para reconquistar espaço no prato do brasileiro, especialmente entre os jovens.

ABAG muda de comando: nova fase, mesmo desafio

Eleito na segunda-feira, 27, o novo presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Ingo Plöger assume em janeiro com a missão de representar um dos setores mais estratégicos da economia nacional, que reúne gigantes como JBS, Bayer, Cargill, Basf, Santander e John Deere.⁠

Em tom estratégico, Plöger defende maior articulação internacional, diálogo entre cadeias produtivas e menos fragmentação:

“O agro precisa parar de competir consigo mesmo. É hora de pensar como nação exportadora de soluções.”

COP30 será tropical. Mas e o agro, será financiado?

O Brasil chega à COP30 com dados sólidos, um plano estratégico e um discurso afiado. Mas o campo, esse mesmo que será exibido como vitrine global, segue esperando crédito, renegociação e margem.

A sustentabilidade do agro não será medida em palcos internacionais — mas no acesso ao insumo, ao crédito e à renda. A COP30 pode ser histórica. Mas só será transformadora se a reciprocidade prometida sair dos papéis e cair no chão, ou melhor no campo.

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